Minha primeira vez no cockpit

Lembro com imensa clareza e emoção desse dia. Era uma noite de Primavera do ano de 2012. Eu, que já era apaixonado por aviação desde os oito, estava no auge dos 15 anos. Até então eu nunca havia entrado em um avião comercial. O máximo que eu tinha chegado perto de um eram os do aeroclube onde eu ia assiduamente aos sábados.

Lembro que não dormi na noite anterior ao voo, e nem conseguir dormir antes dele acontecer. O voo era a noite, 01:40 da madrugada. E meu primeiro voo não poderia ter sido melhor. A companhia? É claro que foi a Azul Linhas Aéreas. E o avião? Um Embraer 195, mas não qualquer Embraer, o PR-AYV. Quem não souber do que se trata, basta pesquisar no Google. Mas é um dos aviões mais magníficos da Azul. Pintado nas cores da bandeira do Brasil. Me orgulho dela (a Azul) ter feito o mesmo com o A330. Mas estou divagando. Lembro de ter chegado ao lado da aeronave, e saiu uma lágrima verdadeira do olho. Como um verdadeiro aluno do Colégio da Polícia Militar, entrei em posição de sentido e prestei continência como forma de pedir permissão pra ingressar naquele lábaro voador. Mas de forma sútil, para que ninguém notasse.

Aquele voo foi um sonho, e embora tivesse ocorrido de madrugada, não pisquei o olho por um segundo. Meus companheiros de viagem, o meu amigo Sergio e meu professor Rodrigo Fontes são prova disso.

No meio da noite, enquanto todos dormiam me levantei para ir ao banheiro. Quer dizer, esse foi o pretexto. Eu queria mesmo era andar pelo avião. As luzes estavam apagadas e antes de entrar no banheiro vi encostada a ele uma moça sentada lendo um livro. Essa moça era a comissária chefe, Gisele. Conversamos por alguns minutos quase em tom de sussurro para que ninguém pudesse se incomodar. Falei pra ela da minha paixão pela aviação e meu sonho de tornar-me piloto comercial. E ela disse que iria perguntar ao comandante se me permitia uma visita ao cockpit após o pouso. Eu fiquei eufórico e agradecido. Voltei ao meu assento.

Em solo, em Viracopos, meu professor não entendeu o meu apelo de ficar no avião após os passageiros saírem. Saímos tão rápido que nem pude me despedir da comissária. Muito menos visitar o cockpit.

Dois dias depois estávamos embarcando no voo de volta. A aeronave? A Azul sempre capricha... Era o PR-AYO. O avião cor de rosa da Azul. E para minha surpresa advinha quem era a chefe de cabine? Isso mesmo. Gisele. E ela lembrou de mim!!! Me perguntou se eu havia visitado o cockpit e eu disse que não e expliquei o motivo. Então ela disse que tentaria novamente nesse dia.

Não conversamos muito, a decolagem foi sob forte tempestade e o voo foi mais turbulento. Confesso que nesse eu dormi. Também era de madrugada e eu estava extremamente cansado da ONHB. Quando acordei, com o anuncio do pouso iminente, já estava ansioso. E foi nesse dia que eu entrei pela primeira vez em um cockpit. Tirei essa foto enquanto passava pela porta. Foi muito rápido. 1 minuto talvez? A equipe de limpeza já estava entrando, pois, aquela aeronave precisaria logo partir. E de repente eu estava lá, ao lado do Copiloto, no assento do comandante do AYO da Azul. Naquele momento meu coração bateu mais forte, toquei o manche e as manetes. Me senti em casa. Foi um minuto, mas na minha cabeça foram horas... O tempo passou diferente pra mim como se orbitasse um buraco negro. Aquilo significava muito. De repente meus pés tocaram o chão, eu tinha que sair. Agradeci ao copiloto e devolvi seu cap (sim, eu estava de cap haha). Não encontrei mais a comissária. Não pude agradecê-la pelo pequeno gesto que mudou minha vida pra sempre. Até tentei... Procurei ela em todas as redes sociais que podia, mas não a encontrei. Tudo que eu sabia era seu primeiro nome e seu local de trabalho.

Possivelmente eu nunca mais a veja, mas queria que soubesse que ela mais que realizou um sonho, ela selou meu destino. Daquele dia em diante eu soube que faria o possível para voltar a tocar no manche de um Embraer, e dessa vez eu não iria só tirar uma foto, eu iria domá-lo.

Saí daquele avião não só apaixonado por ele, mas pela companhia e pela tripulação da Azul que pra mim foi o exemplo de ideal que eu queria ser ao tornar-me um comandante. Não apenas um bom comandante, um bom técnico, mas um ser humano acima de tudo e aberto ao sentimento dos meus passageiros. Não queria mais ser um mero piloto, queria ser um piloto da Azul. Mas isso é assunto pra outra foto. Rsrsrs

Se você leu até aqui, obrigado!

AçúcarMascavo
Enviado por AçúcarMascavo em 05/04/2020
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