Diário de um enclausurado
Diário de um enclausurado
29 de março – E agora, José!
Amanheceu e o Sol em silêncio tenta despertar um mundo que teima em não acordar. Levanto com a preguiça de ontem; olho pela janela e tudo está adormecido. O ser humano, dono do mundo, percebeu que um simples vírus o coloca novamente dentro de uma natureza que o faz frágil e submisso.
O café desce amargo; nada adocica esses dias. E agora, Mário!
O mundo mudou
A vida mudou
O ser humano deve mudar.
A sociedade do consumo está estagnada e nada será como antes. Os números de contaminados aumentam e a população assustada e enclausurada busca fugir. Fugir para onde. Não há mais lugar, não há mais praia nem boteco. Não há mais nada. Na verdade, há somente o nada
A tarde, José, as notícias amedrontam. O mundo decreta “prisão domiciliar”. O Sol, com medo do escuro, começa a se esconder. Minha casa grita por vida, mas a vida está em silêncio, pulsando em cada um, mas em gemido.
A noite chega e com ela o desejo de dormir e acordar quando esse pesadelo se encerrar. O sono, José, não é mais um unguento. Vizinhos silentes, bêbados sóbrios ... esse é o cenário de um mundo que está se reinventando.
...E agora, José?
Mário Paternostro