MEDO E DEPRESSÃO. INEVITABILIDADE DO DESTINO.
Atravessamos o deserto do medo, uns com coragem, outros em depressão. Ela é implacável. O mundo é novamente surpreendido.
A própria vida e seu medo de perdê-la traz o medo patológico que leva à depressão. Uma instabilidade emocional se abate e desestabiliza a vida por um tempo ou às vezes por toda uma vida. Não se vence o tempo, o tempo de vida. O tempo é implacável e sempre vencedor. Marca sua estada respirando.
O tempo só não acaba para o próprio tempo, só ele é testemunha de si mesmo. Só ele sabe quais as modificações que existiram no mundo e no universo, no cosmos. Assiste soberano a tudo que os limitados homens não explicam. Tivesse seu livro escrito, tudo estaria lá, assentado sem caminhar na dúvida. É única testemunha presencial.
De nada adianta a física e a antropologia fazerem as costumeiras digressões, e mudarem afirmativas, e progredirem. Avançam pouco ou quase nada.
Progrediram sim, as ciências curativas e preventivas. E é bom repetir quanto se deve a Salk e Sabin, quantas vidas deixaram de ter “paralisia infantil”, exércitos de infantes. Reverência ilimitada é pouco para estes “anjos das crianças” e das vidas libertas em movimento. Outras causas de paralisia acometem as crianças que vemos nas ruas, sofridas e sofrendo com seus pais.
Não se escapa do tempo e da indústria do medo. Das fobias que não são poucas, tantas que são impossíveis de listar, englobadas no medo em geral. E o grande medo das perdas é do maior bem, a vida. É o medo hierárquico no vértice de todos os medos. Compreende-se. É o maior valor e dele decorrem os outros, todos.
Por isso poucos entendem a razão de se buscar A VIDA ETERNA, sob promessas religiosas ou convencimentos pessoais exclusivos. Como dizia o poeta romano Lucrécio, deuses e religiões foram criados pelo medo da morte. Acrescentaria às convicções pessoais singulares.
Só uma ascese verdadeira e despojada pode entender esses segredos que se volatilizam no cosmos. É uma construção de fé e razão, ou das duas. Pela razão muitos ficam indiferentes a esse medo, despojados dos valores materiais da vida renunciando a seus prazeres, como os monges voltados exclusivamente para o lado espiritual.
Conheço alguns com medo, presos em suas casas faz mais de trinta anos. Nada resolveu o medo patológico, nem ansiolíticos, nem terapia psíquica, nem derivativos que se tornam vícios como o álcool e levam a outras doenças. O tempo e a instabilidade emocional são os vencedores.
Depressão profunda, imensurável cerca e envolve esses personagens sofridos, cerram portas e janelas uns, outros buscam meios de sobrevivência ensombrados. Casas fechadas, criam-se masmorras, é visível o medo dentro e fora desses cárceres criados pelos próprios encarcerados. Alguns opiniosos não admitem a doença. Modernamente a doença por medo, que por vezes nasce com o doente (fragilidade originária biológica) é chamada de "pânico" por causas externas concorrentes.
Vivem uma vida de ficção os doentes, por compensação incorporam atividades que nunca tiveram, passeiam por vontades irrealizadas que tornam reais. A vida é mar revolto de dificuldades que as emoções enfrentam timidamente. Falta força, determinação e coragem para vencer as barreiras. É preciso aparelhamento para viver.
E viver dá trabalho, é necessário ser forte.
E o medo, paradoxalmente, impede a vida, o mesmo sentido do objeto de proteção, a vida que se quer proteger, se extingue. O que se protege está comprometido. Já não se vive! O paradoxo é gritante e a contrariedade clara. Já não se vive por medo, a vida que se quer preservar não é vivida. Atentem para essa equação irrespondível.
Perdendo a noção de realidade, vive-se a irrealidade, uma dureza para a vida que se quis proteger e não se vive, se arrasta entre ficção e sonho irrealizável, é triste. Sofre-se. Mas nada se pode fazer, é maior que a vontade essa força, entende-se. E o destino é inevitável.