ESCRITOR NESTOR TANGERINI

TANGERINI POR TANGERINI

Nelson Marzullo Tangerini

Volta e meia esbarro em textos de meu pai, Nestor Tangerini [1895-1966]. Sua produção é imensa, e, com o tempo, vou publicando-a, de acordo com minhas posses de professor do Estado do Rio de Janeiro.

Livros como Dona Felicidade [sonetos líricos], Editora Achiamé, Na Taba de Araribóia (crônicas e sonetos líricos], Editora Nitpress. Humoradas... [sonetos satíricos], Sobre o beijo, crônicas, e Dona Felicidade, 2ª. Edição, Editora Autografia, já mostram um pouco do inesgotável talento do escritor.

Mais três livros do autor estão sendo preparados por mim para um futuro próximo: Cinco sentidos [monólogos, letras de músicas, trovas] e Caricaturas cubistas e Esquetes e cortinas [teatro].

Esperamos que, um dia, sua vasta obra seja estudada em universidades e escolas, uma vez que o autor já escreveu seu nome na literatura humorística de língua portuguesa, derrubando, assim, a grande muralha dos cânones estabelecidos pelas “igrejinhas”.

Humorista sem rédeas, como um jornalista o definiu, certo dia, Nestor Tangerini, sempre bem humorado e cítrico, assim se auto definiu em seus manuscritos:

“Filho de italiano [Vittorio Tangerini] com gaúcha [Domingas Tambourindeguy Tangerini]” – esta, filha de pais bascos estabelecidos na fronteira de Brasil e Uruguai -, “Nestor Tambourindeguy Tangerini é, e não podia deixar de ser, um temperamento complexo e espírito incomum.

Algo nervoso, é o sujeito mais calmo nas situações mais difíceis, e, sensível, recebe com a maior naturalidade o golpe mais rude.

Educado por natureza, não destrata nem agride fisicamente a quem quer seja, mas, ofendido, parece mineiro, que dá um boi para não entrar e uma boiada para não sair.

É seu traço predominante o bom humor, constante, perene.

(...)

Quase não ri, geralmente sorri, e, legítimo humorista, não tem a volúpia de provocar o riso nem acha graça nas graças que faz.

Corajoso” – como todo bom leonino – “apenas tem medo de duas coisas: “dentada de cachorro e português de bicicleta”... Coração sem ódio, apenas tem raiva de duas coisas também: “relógio e folhinha”.

Não guarda de cor o número da casa ou telefone de ninguém.

Constância, só na amizade; fora disto, acha-a tão monótona quanto viver muito.

Não sabe o que é doença, só conhece desastres, de ônibus, de trem, naufrágio, e espera, ainda, para fechar o círculo, despencar de um avião...

(...)

Aprendeu de tudo um pouco, inclusive defesa pessoal, não se havendo especializado em nada”.

O texto acima faz parte de Perfil quase perdido, Biografia de Nestor Tangerini, escrita por mim, com colaboração de minha mãe, Dinah Marzullo Tangerini, ex-atriz de teatro e da Companhia Aldo Garrido. A referida biografia, ainda inédita, foi registrada na Biblioteca Nacional, em 2000.

Enfim, deem uma chance a Nestor Tangerini!

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 04/04/2020
Reeditado em 04/04/2020
Código do texto: T6906899
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