HISTÓRIAS ALEGÓRICAS NA CASA DO SALVIN
Atualmente vivemos um cenário de (Guerra), devido ao vírus que circula o globo terrestre o Covid-19 ou Coronavírus, o mesmo se iniciou em território Chinês no final do ano de 2019, e em pouco tempo ganhou outros países ao seu redor, assim como logo se pulverizou no continente Europeu, e não demorou muito aportou em Terras Tupiniquins, mais especificamente no final do mês de fevereiro do decorrente ano.
Dado o paralelo que faz a muitos se recolher em um isolamento, seguindo orientações médicas da Organização Mundial da Saúde (OMS), bem como orientações difundidas pelo governo Federal, obtém se no presente momento o confinamento “voluntário” o qual segundo a (OMS) diminui a circulação e a propagação do vírus, vírus que vem ceifando muitas vidas em todo o mundo.
Sobre tal prescrição de confinamento, e com um certo tédio das atividades, resolvi neste período me recolher em meu quarto, e como em um insight noturno, honestamente as três e quarenta e seis da manhã, acordado em meio a um surto de “roubo do meu sono”, levantei fui a cozinha, tomei um copo com água, e assaltei a geladeira, na qual havia uma nega maluca, quando percebi já havia comido metade daquele bolo que é sem dúvida o reflexo da entrada no céu.
Após a volúpia da gula, retomei ao meu quarto, sentei em minha escrivaninha e comecei a (vasculhar a internet), sem nada de interessante na minha fatídica madrugada, resolvi ver um vídeo no youtube, o qual me veio à mente, com o título, conversando com Jhony na cozinha. Ao ver aquele vídeo, me recordei de algumas situações que aconteceram e acontecem na casa de um amigo que se não fosse “galinha, mas gente boa” seria um homem de grandes virtudes.
CAUSO 1- UM QUINTAL PARA DAR INVEJA:
Certo entardecer de uma terça feira, como cotidianamente na ocasião fazia, estava me arrumando para ir a faculdade, período em que cursava filosofia. Tomei rapidamente um banho, aproveitei fiz a barba, passei uma escova maliciosa nos dentes, sem piscar os olhos garrei minha mochila, montei na minha magrela e parti para a universidade.
Chegando na universidade, passei um cadeado na bike, e como já estava atrasado para a primeira aula, pensei em passar na biblioteca renovar meu livro, bater um papo com a bibliotecária que na época além de muito bonita era simpática, mas os tempos mudam e hoje ela parece que é o contrário literalmente daquele período.
Sem muita alternativa fui como quem não sabe que chegou atrasado para a aula de lógica, entrei disfarçadamente na sala, o professor sentado em sua mesa, olha por debaixo dos óculos e faz uma interrogação “o senhor acha que isso é bodega, para chegar a hora que bem desejar?”, envergonhado com a pergunta, apenas me sentei e assisti o restante da aula.
Dado o intervalo, o professor solta o que muitos gostam de ouvir “após o intervalo não darei aula, tenho reunião de colegiado”. Meu instinto fala mais alto, e como num relâmpago já me vejo pedalando minha magrela em direção a casa do Salvin. Aqui amigos leitores faço um parêntese para falar dessa figura emblemática pra não dizer fora do comum.
Salvin tem cinquenta e dois anos de idade, aproximadamente um metro e setenta e dois centímetros de altura, ombros curtos, uma leve/moderada elevação na área do abdômen, usa um óculos estilo leitor de jornal, tem cabelos escuro, rosto de cantor de música gaúcha, e sempre está usando tênis, bermuda jeans, e camisa de algodão, parece um rapazinho que foi comprar algodão doce na mercearia do tio, devido ao seu constante bom humor.
Ele mora sozinho, em uma casa amarela esmeralda, e como tal tem umas esquisitices normal para quem vive só, uma bem comum é o de trocar ao menos quatro vezes por dia as meias, as quais só usa da cor branca, possui hábitos caseiro, e como que um bordão extraído do ex-deputado federal Enéias fala “meu nome é trabalho” constantemente.
Voltemos a (fita) em que saio da faculdade devido não ter aulas, e sem pensar muito vou em direção a casa do Salvin, chegando a sua casa paro com minha magrela e bato palmas. Salvin, com seu olhar assustado de quem parece se perguntar quem pode ser a essa hora, abre a porta e logo que me reconhece convida para entrar. Salvin estava tomando café naquele momento, e como não achei certo fazer desfeita ao seu convite para com ele, compartilhamos do café.
E como sabemos são nesses momentos mais relaxados entre um gole de café e um papo sem muito nexo, que relatamos nossas angustias, amarguras, desavenças amorosas, dores de homem. Salvin como na ocasião tinha uma preocupação de pessoa de hábitos caseiro me confidenciou que o mato estava tomando conta da sua casa, ofuscando aquele amarelo jovialidade. Bem recordo que na época o mato realmente estava denso, mais parecia que ele era um homem em meio a uma selva.
E indignado com tantos afazeres fora de casa, (trabalho), mal tinha tempo para derrubar a mata que se aglomerava entorno de sua casa, com um certo receio de o mato já estar abrigando répteis, ele prometeu que a partir daquele dia, o qual havia pego alguns dias de “férias” iria encarar a difícil empreitada. E começamos naquela noite enquanto tomávamos a segunda garrafa de café a falar sobre qual a maneira mais prática para derrubar com eficácia o protótipo de bioma/mata atlântica que se alastrou em torno da sua casa.
Claro que seria a derrubada da mata, mas em meio a tantos sarcasmos, e falas sem sentido, chegamos foi a um consenso de passar a inchada no mais grosso do mato, e veneno no mais fino. Mas naquele período Salvin tinha gastado o dinheiro com roupas, perfumes e no seu fiel “mantenedor” o dono da mercearia da esquina. Ou seja, os recursos eram precários, ai já por tantas da meia noite, e como que uma revelação “divina” esbravejei: Salvin, compre um saco de cal virgem, joga no mato fino e na terra onde capinar o mato mais grosso.
A ideia era que uma camada generosa de cal, iria ressecar a Terra, e com a primeira chuva devido a estação seca que estávamos faria com que o cal queimasse naturalmente o solo, matando as raízes e assim deixando o terreno sem “vida” para o crescimento do mato futuro. Salvin como que embriagado pelo excesso de café aceitou como uma verdade posta a sugestão, na ocasião achei que ele apenas aceitou a ideia por ser meia noite e já queria que eu fosse embora mas não queria falar.
Então peguei minha magrela e fui para casa, sorrindo pela discussão inusitada da noite, sem dar créditos aos experimentos mentais que fizemos naquela noite. Chegando em casa estacionei minha bike como sempre fazia atrás da garagem, fui direto para o banho, a noite já avançada no horário, e nos risos incontidos dado o diálogo de então, fui descansar.
Passados quatro dias, retornei à casa do Salvin, a qual parecia um pedaço do polo norte, devido ao branco que forrava desde a entrada do portão até seu quintal, algo que não passaria despercebido nem mesmo a um míope, chegava fadigar a retina o branco do cal refletido sobre a luz do sol, e além do mais que dia ensolarado estava aquele tarde.
Sobre um ar de surpresa perguntei para nosso anfitrião se ele havia tido delírios, ou estava revoltado com a cor verde que predominou por certo tempo na sua casa. Com seu bom humor, ele explicou que sobre nossas conversas foi influenciado a sugestão do cal, que por sinal ele acreditava com total convicção que ainda naquele fatídico sábado iria chover e o efeito de (cozinhar a terra pelo cal), faria com que se queimasse até a última raiz de qualquer área verde viva.
Após ter xeretado seu quintal e demais partes do seu terreno, e vendo o quanto ele espalhou de cal, fiquei admirado, provavelmente ele tinha cal até dentro do nariz, pela planície branca que reinava em torno da sua casa, parecia que o mundo foi envolvido num mundo de branco devido ao cal e o amarelo esmeralda dada a cor da casa, uma
combinação que provavelmente até o telescópio hubble teve de render ao ofuscamento do brilho que irradiava do lugar.
Passados alguns momentos de descontração que tive mentalmente, fui tomar mais um bom café com Salvin, seu sorriso de quem havia feito uma obra por completo era algo nítido, quase um orgasmo comemorativo. Na ocasião tinha atividades em casa e não fiquei muitos mais que uma pequena xícara de café e uma pacata fatia de pão.
Passou o fim de semana e alguns dias mais e devido a um feriado no meio da semana fui novamente a casa do Salvin, chegando a sua casa, e como de habito abri o portão estacionei a magrela, e fui entrando na sua casa, o branco do cal já havia amenizado, dei uma observada antes de ir conversar com o Salvin, que estava sentado em seu sofá, como que hipnotizado assistindo um jogo de futebol, se bem recordo era Olaria e Amazonense que jogavam, Salvin tem um calcanhar de Aquiles por times esquisitos, coisa de quem mora só creio eu.
Não quis interromper seu momento hipnose/futebol. Quando veio o show do intervalo, iniciemos um bate papo, e normalmente ele começa falando pois gosta de fazer comentários sobre os lances do jogo, principalmente de enaltecer os técnicos, como não entendo nada de futebol acho que ele fala para me animar a ver as partidas. Após uns minutos perguntei para ele do efeito “cal matador de raízes”, nesse momento ele ficou pensativo, e como sempre faz sorriu, e disse ta fazendo efeito, com o tempo saberemos seu resultado.
Passados pouco mais de uma semana da atividade com o cal, e em um dia extremamente abafado choveu, choveu de lavar asfalto. No dia seguinte ao da chuva, peguei minha bike e fui fazer uma pedalada costumeira pelo centro da cidade, resolvi passar na casa do Salvin, já era próximo de umas cinco horas da tarde, chegando a sua casa, não precisei nem bater palmas ou chamar por seu nome, ele estava pendurando as roupas de cama na varanda.
Entramos para a cozinha, ele com seu típico calção jeans, camisa algodão verde oliva, tênis com cadarços mal amarrados e meias brancas. Colocou uma água para esquentar, e enquanto isso seguimos para a lavanderia, pois estava lavando algumas roupas da semana. Salvin possui uma máquina de lavar roupas, que passa de geração em geração na família, uma relíquia segundo ele, difícil de acreditar como algo tão antigo funciona, mais um mistério de quem mora só.
Após ferver a água, sentamos para falar sobre os momentos do cotidiano, apreciar um bom café, e como acho feio não aceitar, sempre tomo mais de uma xicara. Salvin estava cheio de atividades, pois enquanto a máquina tentava bater a roupa, ele aproveitava para passar aquele pano dentro de casa, organizar os móveis, desbaratinar o acúmulo de poeira, dar um tapa na aranha que fica nos frestos do lar. Então me despedi e fui para casa, ele teria bastante serviços até o anoitecer.
Devido uma semana de provas na faculdade, e de uma semana em atividades entre escola e faculdade, fiquei sem ter como ir à casa do Salvin, mesmo em meus fins de semana os quais passava horas em frente ao computador montando minha monografia, assim se passaram duas semanas sem notícias do meu amigo e com esse tempo e as inúmeras atividades acabei que esqueci do “efeito cal”, até mesmo por que durante esse tempo havia chovido até que bastante.
Passado o período mais turbulento das atividades fui fazer uma visita na casa do Salvin. Estava já perto de sua casa quando coincidentemente encontrei nosso anfitrião com algumas sacolas em mãos, ele havia recém saio da mercearia, comprará uma cerveja caseira, alguns legumes e uma linguiça. Notei um olhar meio triste, achei que estivesse passando por uma crise amorosa, ou que estava fazendo muito exercício físico sem dar resultados, então perguntei o que aconteceu. Ele me olhou e disse espere nós chegarmos lá em casa.
Então fomos em silêncio as duas quadras seguintes, fui empurrando a magrela e Salvin levando suas compras. Quando chegamos de frente a sua casa, de início pensei em sorrir, depois pensei que situação que aconteceu aqui. O mato, o mato que ele havia carpido a duas ou três semanas atrás e aplicado o cal ainda para matar tudo, teve um efeito contrário, mas muito ao contrário, segundo ele o qual mais parecia tônico capilar em cabelo de mulher, o mato crescia muito mais rápido, mais verde, e mais grosso, chegava a ter brotos por tudo que é lado.
Mais parecia que um Tarzan vivia ali. Espécies de animais que estavam em extinção em nossa região estavam ali, como a cutia, o macaco barbudo, a toupeira, e um lagarto do papo amarelo, que segundo o próprio Salvin pensava já estar extinto. Era meio que um jardim dentro da área urbana, só que um jardim de dar inveja a qualquer outro da região. Passados os meus primeiros momentos de euforia, comecei a rir, pois pensei o cal certamente adubou a terra, e como demorou a chover o cal perdeu o efeito de queimar e fez o contrário.
Mas como nem tudo são lagrimas, Salvin me mostrou próximo da varanda as rosas que nasceram junto com o mato, eram as rosas mais lindas que já tinha visto, de todas as cores, tamanhos, e tipos, nem mesmo o jardim botânico teria tanta variedade. Pessoas que passavam na rua parravam para bater fotos, e elogiar pelas flores, e pelos cipós que estavam se alastrando em direção ao telhado da casa.
Não demorou muito e com o crescimento do mato e dos animais exóticos, as pessoas começaram a vir na sua casa, até mesmo veterinários. Já era conhecido como o jardim suspenso do São Bernardo, Salvin foi matéria de jornal local, deu entrevista para um famoso radialista da cidade, tirou foto com o secretário da cultura do município vizinho. Foi motivo de festas em sua casa para comemorar o efeito do cal no mato e sua consequente popularidade.
Dia após dia o mato tomava conta do amarelo esmeralda da casa, e os animais se aglomeravam, com isso veio as reclamações da vizinhança e o poder público encima, Salvin pediu ao prefeito para podarem o mato, prontamente atendido vieram os funcionários do obras, e passaram o maquina no mato, o zoológico de outra cidade veio para capturar a bicharada, e assim foi durante três dias até o terreno recuperar sua forma “original”, e o amarelo esmeralda da casa, como que em um nascer do sol voltou a brilhar.
Claro que algumas coisas ficaram como o lagarto do papo amarelo que até hoje corre a lenda, frequenta o fundo de seu quintal para comer algumas cascas de ovo, e outras coisas mais. Mas o que de fato do jardim ficou foi suas rosas que não foram arrancadas, são rosas extremante bonitas. Corre boatos que ele tirava toda noite uma rosa para levar a uma mulher, que nunca ninguém soube quem é, mas que ganhava certamente as rosas mais bonitas do antigo jardim suspenso do bairro São Bernardo.
Bom eu até hoje em meus fins de semana vou a casa do Salvin. E quando chego lá, ele está com sua máquina de lavar roupa que é tão antiga quanto as pirâmides do próprio Egito. Com seu calção jeans, suas meias brancas, sua camisa algodão branca desbotada e seu famoso tênis mal amarrado, junto de um sorriso largo no rosto, bom humor característico da personalidade de Salvin. Tomamos nosso café, falamos das dores de homem, do cotidiano, e sugestionamos o projeto de outro possível jardim de dar inveja, ou quem sabe pintar a casa de outra cor.
E assim passou se o tempo e tudo retomou a sua costumeira normalidade, mas confidencio a você caro leitor amigo, sempre solto algumas sugestões para o Salvin, quem sabe ele aceita alguma.
Ficou interessado nos causos que acontecem na casa do Salvin? Então não perca tempo compartilhe com seus amigos este texto, e fique atento aos próximos capítulos. Um grande abraço.