CENAS URBANAS (nº 2)
TORRE DE BABEL
Uma dona com o carrinho de feira cheio de compras segue em direção ao elevador manual na parte interna do acesso às plataformas do metrô. De repente surgem três esbaforidas mulheres, todas querendo pegar o mesmo elevador. Nem se tocam ao aviso na porta dizendo que a carga máxima é de 250 kg.
A primeira que chegou olha para as outras e pensa “não vou recuar porque estou na frente”. Entra e, as outras três sem mancômetro seguem apressadas. A mulher do carrinho aperta o botão para descer e, ao mesmo tempo, a mais afoita aperta o outro botão para subir. O elevador estrebucha e fica parado. Mas a afobada não larga o botão errado e teima que está certa. A outra que guiava felizmente consegue convencê-la, mas a doidona toma de assalto o comando do elevador que afinal começa a descer.
O aparelho estava tão entupido que seguia mais lento do que já era aí foi à vez da mulher do carrinho falar dos riscos de uma máquina pesada. As três em coro afirmam que são magras, pesavam cada uma 50 kg. Nem multiplicar sabiam, pois se o total eram quatro pessoas , já ficavam com 200kg e mais o peso do carrinho de feira. Mas tudo era jogo de cena, pois as quatro deviam pesar entre 60 a 70 kg. Difícil argumentar com gente deseducada e sabichona.
Moral da história: basta só um pouco da insensatez humana para cair no fundo do poço. Escaparam por pouco, e quem quiser que vista a carapuça.
PERO NO MUCHO
Um homem velho vai tirar dinheiro do caixa eletrônico. A máquina não faz o solicitado e avisa: “o prazo do cadastramento do cartão expirou”. Procura outra máquina para conferir. A máquina não funciona. Ele desiste e vai se retirando quando observa um aviso caindo no chão e retorna para pegar o papel.
Nesse ínterim outro homem maduro que havia chegado no momento da queda do aviso bancário, pega o papel no chão e entrega ao idoso. Mas, não se contém e diz que o mesmo contratempo aconteceu com sua esposa. O senhor agradece e pega o papel. O homem insiste e percebendo que o impresso tinha a tinta fraca, pergunta se o senhor conseguia ler. O velho diz de forma mais ríspida:” não precisa eu posso ler”.
O diálogo chegou ao fim, mas o velho sentiu que teria de se impor e explicou que já sabia que seu cartão estava com problema, e, testou na máquina só para confirmar.
Saiu do banco contrariado, e sentindo que tudo que aconteceu levava a crer que foi considerado “gagá” e que sofreu discriminação. O outro bastava ter feito a gentileza de lhe entregar o aviso. Não tinha motivo nenhum para as pessoas se meterem no que não eram chamadas. Afinal ele não pediu ajuda a ninguém.
Continuou caminhando para sua casa e refletindo sobre o que havia se passado: “é assim que devem roubar os velhos nos caixas eletrônicos, abusando de sua frágil aparência, mas devem tomar cuidado, pois as aparências enganam”. Deu uma bela gargalhada e, assim, recuperou o bom astral.