Diário de Bordo (Jiló, Alceu, o Ariano, e a pandemia do Coronavirus.)
Diário de Bordo (Jiló, Alceu, o Ariano, e a pandemia do Coronavirus)
Estava eu descansando na bodega do Curuja, (Sim, o Guapó mancebo me esclareceu que o seu apoio é com dois 'u" mesmo.) quando a Nega, sua irmã, me comunica que o Jiló, um rapaz casado com sua prima, já estava sendo perseguido por uma terrível cefaléia há mais de uma semana, para a qual nada parecia dar jeito. Ato contínuo, me convidou a dar uma o.hada no Jiló, e ver o que eu conseguiria aplicando os meus conhecimentos de xamã e terapeuta.
Fiz algumas perguntas sobre se o gajo em questão apresentava outros sintomas, pois o Covid-19 não está para brincadeiras, tendo posto fora de combate duas auxiliares de saúde aqui de Olivença, e depois de ter os meus equipamentos carregados de energia, lá fui eu visitar o Jiló em sua casa, logo no começo da tarde.
Jiló mora numa casinha de madeira construída há alguns meses na beira da estrada que vem de Olivença, Além de ser genro do Noy, do qual eu cuidei de uma crise ciática assim que cheguei por essas bandas, é o motorista que carrega as crianças da indígenas para a escola, numa van que pertence a aldeia Ingaia, bem próxima daqui de onde eu moro.
Pois bem. O camarada que estava estirado no chão para suportar as dores que sentia na cabeça não batia em nada com a pré imagem que eu fizera dele: tratava -se de um rapaz jovem, forte, de mais ou menos 1,78 de altura, sendo o oposto do que eu imaginava encontrar, que seria uma pessoa mirrada e com uns cinquenta anos de idade, dado os relatos que a respeito dele ouvira.
(...)
Fiz algumas perguntas de praxe para o meu paciente, adequando um rápido procedimento de anamnese às urgências que o momento prescrevia, já sabedor que o Jiló era uma vítima do alcoolismo, uma praga que assola a comunidade.
Depois das informações recebidas, coloquei o paciente de costas pra mim, sentado numa cadeira, e comecei a trabalhar sua cabeça com movimentos da técnica shiatsu, após o que pressionei o ponto do tigre localizado nos ombros, logo acima da clavícula. É um movimento super doloroso, mas de um efeito terapêutico poderoso, que costumo usar para colocar ordem nos desarranjos causados pela cefaleia.
Após cuidar da cabeça, me pus a tratar do ponto ló do sistema hepático, localizado na parte interna das pernas, outro ponto hiper dolorido, mas que equilibra as funções do fígado e da vesícula.
Pra fechar essa parte do atendimento ao Jiló, fiz uma visualização teúrgica e mandei pra bem longe o incômodo da cabeça dele, queimando-o numa fogueira abrasadora.
(...)
Na sexta-feira, de novo eu na bodega do Curuja, encontro um enorme caminhao baú que veio carregar piaçava. Seu motorista, um catarinense de Joinville, Alceu, um rapaz de 39 anos loiro e alto, sentou -se na mesa em que eu estava, e logo estávamos os dois conversando, pois seu carregamento iria demorar algumas horas.
Surpreendentemente, o meu interlocutor se revelou uma companhia e tanto: fluente em italiano, ele morou oito anos na Europa, passando por Itália e Alemanha, fato que enriqueceu muito nossa conversação.
Alceu, além de me lembrar o fato de que eu arranhava algumas palavras do idioma de Goethe na adolescência, também é um aficionado por História, e durante a caminhada que fizemos pelas trilhas da Cururupitanga (Convidei o rapaz para conhecer um pouco da região, enquanto esperava pelo carregamento de seu caminhão.) compartilhamos informações sobre a II Grande Guerra Mundial, processos históricos, e outras tantas coisas que permeiam o nosso mundo.
Termi amos a Caminhada pela Cururupitanga, tomamos banho no Cururupe, e me foi muito divertido ver o espanto do Alceu por se depara com um rio de águas tão limpas e frescas, o que o fez tô a mais um banho ao final da caminhada, enquanto eu o esperava para voltarmos à fazenda em que fica a bodega do Curuja.
Não deu para ir até Olivença com o Alceu, esse nativo do signo de Áries que aqui conheci, pois o carregamento de seu caminhão já iria ter início. Assim, eu recolhi a minha tralha, peguei a minha Rockrider (Que encheu os olhos do Alceu de admiração!) e peguei o caminho de volta pra casa.
(...)
Como passaria em frente a casa do Jiló, parei para ver como estava progredindo o seu processo de recuperação.
Foi um outro homem que eu encontrei: guapo e serelepe, em nada lembrava aquele cara que estava apavorado com as dores de cabeça que o atormentavam há dias. Já estava a fazer piadas e a me agradecer vezes sem conta, visto que nem as injeções e muito menos os muitos remédios que tomará deram conta de seu desconforto.
Com toda essa movimentação do dia, quase me esqueci que a Tifiu, uma indiazinha de uns cinquenta anos, me pediu para cuidar dela, coisa que fiz num intervalo de tempo antes da conversação com o Alceu.
É por essas e outras que a Nega e o Curuja já andam apregoando aos quatro ventos que o João, este xamã sertanejos, é o novo pajé da Cururupitanga.
Menos, meninos. Bem menos, please!
Terras de Olivença, numa manhã ensolarada de de um dia de sábado de início de Abril de 2020
João Bosco