Fui
Muitos dizem que a arte imita a vida, eu particularmente creio que seja ao contrário, a vida imita a arte. As pessoas montam um palco em suas vidas e atuam sempre que podem.
Existem pessoas que vão de primeira, se apresentam sem ensaio. Outros preferem ensaiar várias vezes e repassar as falas antes, sempre que tiver oportunidade. Há pessoas que conseguem lembrar de tudo e não erram uma marcação se quer. Outros erram pra caramba e há momentos que parecem esquecerem as falas de propósito.
Dentro de sua história acabam achando que ter bom senso significa ser sincero, mas só percebem bem mais tarde que ter bom senso é ser realista e encarar os fatos, somo todos atores. Bons ou ruins, continuamos a atuar.
Por esse mesmo motivo, as pessoas nunca conseguem enxergar quem realmente sou. Não por eu estar atuando sempre, mas por julgarem o personagem sem conhecer sua história.
Para o resto das pessoas, quando eu entro no palco, nunca sou aquilo que elas esperavam que eu fosse. Para outras pessoas eu já fui o bebê perfeito e fofinho, já fui o menino quietinho da turma, já fui o papagaio da classe, já fui o melhor dentre todos, já fui o pior de todos eles, já fui rei, já fui abandonado, já fui traído, já fui bicha e já fui padre.
Eu já fui preso, já tive liberdade demais, já fui certo e já fui errado. Já fui amigo e já fui o pior dos inimigos. Já fui educado e já fui desonesto. Já fui filho e já fui pai. Já fui médico, dentista e terapeuta. Já fui modesto e já fui prepotente. Eu já arrisquei demais e já fui preguiçoso. Já tive os pés no chão e já fui sonhador. Eu já fui garçom, já fui servido, já fui telefonista e já fui cliente. Eu ainda vivo, contudo pra outros eu já fui.
Concluindo para todos eu já fui tudo, menos o Gustavo.