Conversando comigo
Tenho lido coisas lindas de pessoas que estão enxergando beleza na crise instaurada pela pandemia do COVID-19. Sim, coisas que nos exortam para a humanidade do abraço, para a igualdade das gentes, para a beleza da família, para o tempo que nunca tínhamos antes... Acho até romântico tudo isso. Certamente, põe leveza na vida, de uma hora para outra, roubada de nós. Mas não me convenço. Não consigo achar graça. Porque sinto que alguém roubou-me a paz, a liberdade de ir e vir, a alegria dos encontros, o aconchego das reuniões de família. Para muitas pessoas que moram em apartamentos, até o sol lhes foi roubado. Essa onda chinesa (porque o vírus é chinês) nos ameaça a saúde e até a própria vida. Ou a vida dos que amamos com devoção. Talvez eu seja uma poetisa chinfrim, uma impostora... Porque talvez tivesse obrigação de enxergar, com meus "olhos vagabundos", beleza na crise. Desculpem, mas não consigo tirar algo de bom nisso tudo. Simplesmente lhes digo que quero minha vida de volta e a vida de todas as pessoas que amo. E, mais ainda, quero a vida de todo homem, em qualquer canto da terra. Quero o mundo girando, o trabalho trabalhando, a tranquilidade das pessoas de mais idade. Quero o banco da praça, a igreja abarrotada de gente, o padre benzendo. Quero a praia lotada, as ruas cheias de gente, de carro, de motos e bicicletas... Quero abraços, apertos de mão e beijos! Quero sentar num barzinho, beber cerveja e cantar com minha turma. Quero minha Academia Lagopratense de Letras, minha ACADELP em Seresta, meu Coral da EMBARÉ... meus Anjos da Noite, minhas Meninas do S.O.S, meu trabalho no escritório. Quero meus pais, meus irmãos, meus cunhados, meus sobrinhos. Quero meus amigos e as familias deles, meus amigos do INSS. Quero poder visitar um doente, uma mãe que deu à luz, um abraço de consolo no amigo que perdeu um parente. Quero festa e até velório, se preciso for! Viver, ora, preciso viver!