Crises Existenciais

Eu estava no banheiro, fiquei um minuto olhando a água cair do chuveiro antes de criar coragem de me molhar. Era uma manhã chuvosa e eu estava outra vez de ressaca, não lembro no que pensava, enquanto olhava os pingos de água descerem velozmente, disparando um barulho hiponotizador. De repente crio coragem, primeiro meto a mão debaixo do chuveiro, em seguida coloco todo o braço, depois, em um impulso de coragem entro com o corpo todo, sinto a água gelada bater em meus ombros, meu corpo começa a tremer, sinto vontade de sair, mas lembro que preciso resistir, terminar, ir até o final do banho, assim como na vida.

É sempre na hora do banho que tenho meus momentos mais tristes, devo ter criado algum gatilho emocional, toda manhã na hora de tomar meu banho frio, entro em transe nas minhas reflexões e crises existenciais.

Isso vem me deixando nervoso e confuso, até crises de ansiedade ja tive. É horrível, isso tudo por ficar tentando achar um caminho, respostas, ou uma saída.

Peguei meu sabonete, enquanto passava rapidamente pelo meu corpo, sentia o doce cheiro de Eucalipto. E pensava em tudo que eu estava sentido naquele momento, o frio, a tristeza, o doce cheiro de Eucalipto, até mesmo o medo. Tudo é reação química e elétrica em meu cérebro, e, tudo o que eu era, era apenas aquilo, um pedaço de carne que reage as coisas que vem de fora, a partir de reações, químicas e eléctricas.

Olhei para a janela do baneiro e vi o céu nublado, o tempo ainda feixado, dava mostras de que o dia todo iria ser frio e chuvoso.

E outra vez pensei no vácuo, no espaço sideral, no espaço entre os planetas, no nada entre as estrelas, e o nada entre as galáxias. E sabe lá o que existe entre os universos.

Outra vez lembrei de como somos pequenos de ante de tudo e do nada, minha insignificância até mesmo aqui nessa terra, essa terra que para o universo é insignificante também.

Outra vez fiquei me perguntando por que diabos estavamos aqui. E por que eu tinha que estar tomando banho naquela manhã fria e chuvosa.

Fiquei pensando se não seria melhor se não tivessemos evoluído, se ainda fossemos homens das cavernas ou até mesmo macacos na floresta.

Pensei, quando chove na floresta, os macacos apenas se escondem da chuva. Homens

das cavernas nao precisavam tomar banho, acordar cedo para trabalhar em algo que não gostavam, apenas para ganhar dinheiro e gastar com aquilo que não precisavam.

Minha mãe dizia que tinhamos que fazer faculdade e trabalhar para sermos lembrados pelos nossos filhos e netos depois que morressemos. Uma vez disse a ela que eu nunca conheci os avós dela, e perguntei se ela conhecia ou lembrava dos feitos dos avós, e dos avós dos avós dela. Lógico que ela ficou chateada depois que eu disse que não sei se vou conhecer meus netos, e que não faz diferença ser famoso ou não, pois quem nos conheceu um dia irá morrer, e logo cairemos no esqueciemento, cedo ou tarde.

Sai debaixo do chuveiro e fiquei olhando os pingos de água cairem velozmente, não desliguei a torneira, pensei comigo mesmo que estava cagando para o nosso planete, ecología e natureza, daqui a alguns bilhões de anos nosso sol vai morrer, todo o sistema solar vai ser dizimado, então o que adianta eu economizar água, agora?

Uma vez falei isso para minha ex namorada, ela disse que eu era suicída e depresivo. E que um dia os homens do futuro irão colonizar outros planetas, então vai adiantar sim economizar água, até que esse aqui queime com o sol.

Eu falei que não me importava pois eu estaria morto, e nao iria precisar de água ou qualquer outra coisa. Ela disse que eu era um homem de mente pequena e egoista.

Meu maxilar começou a tremer de frio, eu precisava terminar o banho, e toda vez que eu pensava em me matar, eu lembrava que precisava terminar a vida, deixar ela seguir seu curso, lembrava que eu tinha que morrer quando a vida achasse a melhor hora.

Que eu precisava terminar o banho, não fugir do frio, apesar do nada, assim como na vida.

Deve ser a melhor maneira de ganhar esse jogo, o jogo da vida com a morte é intereasante, você nunca ganha no final, só vence no meio do jogo. O final você sempre perde, e nunca tem outra chance, não tem duas vidas e, não tem noção se haverá segunda fase.

Desliguei o chuveiro, ainda tremendo me enchugo rapidamente, o frio vai me deixando, olho para o chão, fico por um momento em transe, observo a água descer pelo ralo do banheiro, um movimento rápido, frenético, me vêm outros pensamentos, novas reflexões.

Mais uma vez eu sobrevivi ao banho frio da manhã, igual a muitos outros, e amanhã se eu estiver vivo, vencerei outro, e outro... e outros.