JOSÉ SARAMAGO EM QUARENTENA
Em tempos de quarentena, resolvi atualizar umas leitura outrora desejadas, mas impedidas por questão de tempo. Como dizem, o tempo é um bem precioso e nem todos têm a capacidade de aproveitá-lo bem, inclusive eu. Como Salvador Dalí argumentou em sua grande obra, A Persistência da Memória, de repente percebemos o tempo escapar por entre os dedos. Por outro lado, tornamo-nos programados de tal modo que encontramos dificuldades graves para ficarmos em casa por algumas semanas, mesmo que isso seja para o nosso próprio bem. Já escrevi em outros texto que essa geração não tem mais salvação, o Criador deveria escolher outro casal para reiniciar a jornada humana mais uma vez.
Dentre as leituras realizadas nesses dias, coincidentemente está o romance de José Saramago, O Ensaio Sobre a Cegueira. Apesar de ter sido publicada em 1995, essa obra é uma verdadeira metáfora em relação à situação imposta pelo Covid-19 e desnuda o comportamento humano. No romance, por causa de uma cegueira contagiosa e inexplicável, as pessoas se evitam, mesmo assim a doença se alastra. Na vida real, o Covid- 19 têm obrigado, por força de Decretos, os indivíduos a ficarem em casa e a evitarem aglomerações. Como no livro, o ser humano vem demostrando a sua incapacidade de ser caracterizado como humano.
Na obra de Saramago, mesmo recolhidos em um local fechado para evitar contaminações, os indivíduos cegos conseguem ser corruptos, individualistas, egoístas, ladrões, exploradores, violentadores. Observando os últimos acontecimentos, percebemos que esses personagens de Saramago não vivem apenas nas páginas do livro, eles vivem no meio de nós, aliás, nós podemos ser eles. Pelo que parece, será se estamos voltando ao estágio primitivo de civilização?
Não é um questionamento sem sentido. Muitas das nossas atitudes têm contribuído para que pensemos dessa forma. Como estar proibido aglomeração, hoje pela manhã, quando me dirigia à padaria, observei a Polícia Militar desfazendo uma pequena aglomeração que se formação em volta de uma barraca de verduras. Tudo bem que precisamos desses alimentos, mas sem eles, por poucas semanas, ninguém morre. Concluí que, de fato, nossa espécie jamais deveria ser chamada de humana. Se algo nos defini bem é a irracionalidade, como já sinalizei em outros textos. Em tempos de Covid-19 que levou todo o país a ficar de quarentena, ainda conseguimos ouvir alguns indivíduos que resistem a tal medida alegando que se trata de uma questão política. Os absurdos não param por aí. Até os assaltantes utilizam máscaras de proteção para não contraírem o vírus. Quem é mais inteligente, o assaltante que utiliza máscara ou o indivíduo que vai ao supermercado e compra tudo que pode levar, deixando o seu semelhante sem nada? Inclusive sem álcool em gel. Saramago refletiu perfeitamente certo quando se referiu ao ser humano da seguinte forma “é dessa massa que nós somos feitos, metade indiferença e metade ruindade.” Quero que você, amigo leitor/escritor/vivente/observador, reflita sobre a pergunta a seguir: nossa Espécie um dia será humana? Enquanto isso, minhas leituras me levam à Paris para tomar um café com Simone de Beauvoir e seu parceiro Sartre, vamos discutir sobre Existencialismo.
Ser Humano: termo que deriva do latim "homem sábio". O membros dessa espécie têm um cérebro altamente desenvolvido, com inúmeras capacidades como o raciocínio abstrato, a linguagem, a introspecção e a resolução de problemas complexos. Esta capacidade mental, associada a um corpo ereto, possibilitou o uso dos braços para manipular objetos, fator que permitiu aos humanos a criação e a utilização de ferramentas para alterar o ambiente à sua volta mais do que qualquer outra espécie de ser vivo. Outros processos de pensamento de alto nível, como a autoconsciência, a racionalidade e a sapiência, são considerados características que definem um ser humano. https://pt.wikipedia.org/wiki/Humano