O Presidente Manda Estudar

 

 

            Sou de criticar os poderosos. No entanto, tenho diminuído com o peso dos anos, o ácido que dos dedos emana. A postura crítica foi muito estimulada no tempo que aquecia os bancos acadêmicos. Fui forjado no calor da idéias: capital contra comunismo. O primeiro venceu por desgaste moral das fileiras opostas. O que não o santifica, apenas mostrou-se mais resistente aos germens.

 

            A par de defender um ou outro, busquei construir minha vida sob a base de princípios mais sólidos. Dignidade, ética, honestidade, verdade e fé; para citar apenas alguns. Uma das teses que sempre defendi, e pela qual, como educador, tenho lutado é pela educação para todos. Parece discurso de político e slogan surrado de campanha eleitoral.

 

            Surpreendo nosso presidente, às vésperas do Dia das Crianças, a dizer aos estudantes que estudem mais. Não está errado o Lula, devo admitir. Debato com várias pessoas que os estudantes de hoje pouco se interessam pelo saber. Conheço um psicólogo que afirmava que tudo deveria ser avaliado na universidade, menos o aluno, este era vítima do processo. Logo se vê que o rapaz em questão não deve ter estudado muito.

 

            Não quero aqui defender o governo, que pode investir mais em educação, mas creio que o presidente acertou em parte.

 

            Na última semana fui ao casamento de um dos últimos solteirões do meu tempo universitário. Revi colegas e professores. Um dos meus antigos mestres queixou-se da atual geração. “São desinteressados e não respeitam ninguém”. Ele guardava muita tristeza em seu pronunciamento.

 

            Alguma peça não funciona bem na nossa engrenagem educacional, talvez muitas peças. Percebo que mesmo as famílias não dão o valor que se deve à formação dos filhos; e não falo apenas de pagar escolas caras.

 

            Educar é participar do processo inteiro, formando um ser humano que seja útil à sociedade. Em uma antiga crônica, Lima Barreto afirmava que não precisávamos de universidades no Brasil. “Elas apenas servirão para que os filhos dos ricos ostentem títulos de bacharel”. Em grande parte acertou. Os filhos dos ricos, podendo pagar melhores escolas, assumem em maioria os bancos federais. O número de universitários cresce exponencialmente, ao passo que o de universidades se multiplica, entretanto, pergunto: essa gente está se formando em quê?

 

            Não servem como advogados, são péssimos como engenheiros e, temo pelo destino de muitos pacientes nos consultórios e salas de cirurgia. É claro que gente boa se forma, porém, conta-se nos dedos.

 

            Cheguei a conhecer quem que na universidade nunca chegou a ler um livro. Perguntei recentemente a alguns colegas de trabalho quando foi que leram um livro pela última vez. Silêncio. E são pessoas com ganhos acima da média e graduação superior.

 

            Não estamos formando cidadãos, nem professores, nem contadores. Forja-se uma educação que não existe. As estatísticas são inchadas. O presidente manda que os alunos estudem. Defendo isso. Mas é pouco, muito pouco. Gostaria que o exemplo começasse pelo próprio líder da nação. A propósito, Excelência, quanto tempo faz que o Senhor leu seu último livro?