CAMINHADA, PRAÇA, MERCADÃO

CAMINHADA, PRAÇA, MERCADÃO

Aurorando e eu caminhando, não encontro ninguém, a não ser o Debo( cão vira-lata que vive de restos dos carrinhos de lanches, tadinho tá emagrecendo e seu olhar está triste, amanhã vou trazer uma ração pra ele ). A propósito, sumiram os carrinhos de lanches, os baladeiros, os moradores de rua que habitavam os bancos, onde foram?, os novinhos e velhinhos que caminhavam, os sonados no ponto de ônibus, os católicos praticantes, os catadores de reciclados, a sujeira dos mal-educados, as pombas das migalhas, agora sem, e os passantes. Um pouco depois percebo também a ausência do menino que vende água de coco e sempre pergunta por minha neta, o velhinho do caldo de cana que também vende VALE CAP prá ganhar mais algum, as crentes que distribuem Sentinelas, os taxistas fofocando no ponto. Sobressaem-se as duas farmácias, os entregadores com suas motos e bicicletas (não são bikes), o posto de gasolina vazio (o frentista cochila) e a loja de conveniência, inconvenientemente vazia.

Volto para casa, tomo um banho e vou ao mercado comprar legumes e frutas, a oferta é limitada nas bancas e os preços já subiram (fico sem vontade de reclamar, afinal o movimento é tão pequeno que talvez minha compra seja uma das poucas de todo o dia e o dono do box precisa manter os seus). Os que pedem trocados são muitos e vou distribuindo aqui e ali 1, 2, 5 reais e ainda alguns gêneros para uma senhora com uma criança de colo. Acabou a grana do mercado, volto para casa.

Uma tristeza me invade e fico pensando em todos que vi e os que não vi, torcendo para que possam resistir a mais esse momento difícil, numa vida que nunca é, foi ou será fácil.

Espero que consigam receber os auxílios emergenciais do Estado, esse mesmo Estado que os maltrata tanto, que não lhes prove com educação, saúde, segurança de qualidade e cada vez que distribui esmolas, em seus programas chamados sociais, trombeteiam aos céus, achando que estão fazendo grande coisa.

Tomara tomemos consciência que é hora de mudar, de perceber que não é humano ser egoísta, que devemos ambicionar sim, que devemos crescer material e espiritualmente, distribuindo renda de forma mais igualitária, de gerar postos de trabalho em habitação, saneamento, educação, saúde, há um país para ser construído, não falta dinheiro, falta-nos vergonha e cidadania. Não adianta querer mudança continuando a eleger e glorificar ladrões, mitos e salvadores da pátria. Se cada um não tiver responsabilidade e enxergar, que o desenvolvimento será infinitamente maior, e muito mais gratificante, se todos tiverem participação ativa para mudar um sistema perverso, que penaliza quem trabalha e dá guarida a madraços, oportunistas e pulhas, nada mudará.

Será que vamos perder mais esta oportunidade?

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 31/03/2020
Reeditado em 31/03/2020
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