O pacto
O dia amanhecera lindo. Azul , salpicado de rosas e de esperança. Há mais de dez dias obedecera rigorosamente, as recomendações da OMS, do Prefeito, do Ministério da Saúde, de meus filhos. Não saía por nada. Nem para orar na gruta de Nossa Senhora de Lourdes aos fundos de casa. Rezava meu terço na janela. Mas nesse dia, não resisti aos apelos do sol e da alma. Precisava sair. Precisava respirar o ar fresco da manhã. Precisava falar com Ela. Coloquei a máscara, o boné, os óculos e lá fui eu. Com todas as precauções e cuidados. Que ninguém me reconhecesse! Não tocando em nada. Sem olhar para os lados. Sem sequer respirar. A rua estava deserta e triste. Maria lá estava de braços abertos , me esperando. A imagem esculpida da Madre Leonia, na fachada frontal do prédio ao lado da gruta, esboçou um carinhoso sorriso e parecia me dizer: que bom ver vc aqui de volta. Senti-me fortalecida . Rezei o terço caminhando pelo pátio. Um jovem rapaz, dos seus trinta anos, moreno, cabelos negros, educado, sensível, também de máscara , aproximou-se - respeitando o metro e meio de distância - com um sorriso largo nos olhos. Cumprimentou-me e falou da necessidade de orarmos incessantemente à Virgem. Perguntou meu nome, falou o seu, disse que oraria por mim. E eu oraria por ele. Por todos. Pela humanidade inteira. Um pacto de solidariedade e amor. Voltei para casa com a alma lavada. Sem medo. Em paz.
Benvinda Palma
Bom dia!