O segundo amor
Uma noite, ao me recolher à cama (não posso dizer meus aposentos, visto que só tenho um e não é só meu!), não conseguia dormir (o que me chateou deveras, pois estava chovendo muito e todos sabem que uma chuva dessas em Belém é ótima para dormir!), pois a todo momento me vinham à cabeça pessoas que passaram em minha vida, uma delas foi o que chamarei de meu segundo amor (segundo, porque tive um amor na infância!). Então, resolvi escrever sobre ele.
O segundo amor de minha vida (sei que essa frase soa piegas demais, mas não encontro outra!), conheci na rua onde morávamos, éramos vizinhos. Ele tinha por volta de 15 anos e eu, 12. Mas parecia que tínhamos menos (comparando com as meninas e meninos dessa idade hoje em dia!), pois vivíamos brincando na rua como duas crianças.
Era apaixonada por ele. Porém, ele parecia não corresponder a esse sentimento, pois sempre arrumava muitas namoradinhas. E nenhuma era eu, claro! O problema era que eu sempre o ajudava nos encontros, que tinham de ser às escondidas dos pais das meninas.
Todavia, para a sorte de meu coraçãozinho de 12 anos, os namoros do meu segundo amor passavam de expresso em sua vida. E isso meu coração podia suportar. O que ele não pôde aguentar foi o dia em fiquei sabendo que o meu segundo amor iria mudar-se a outra cidade para morar com o pai. E foi o que aconteceu. Ele mudou-se e nem sequer pude despedir-me dele.
Mas, antes de partir, enviou um recado para mim por meio de meu irmão (a pior pessoa do mundo para se dizer um segredo naquela época, pois adorava “encarnar” nas pessoas, especialmente nas irmãs!): ele estava apaixonado por mim. Essa notícia, ao mesmo tempo que encheu meu peito de alegria, também me deixou muito triste, por ele não ter dito isto antes. Achava que nunca mais iríamos nos ver.
Os anos passaram-se. E, quando completei 17 anos, ele voltou a viver com a mãe na rua de casa. E meu coração disparou quando o reencontrei, apesar já ter namorado algumas pessoas durante o tempo em que ele estivera fora (Afinal, a adolescência é uma fase de testes!).
Então, retomamos a antiga amizade. Ele ia de vez em quando em casa para conversarmos sem, contudo, tocar no assunto da velha paixão. Eu também não me atrevia a comentar. Até porque não confiava muito em meu irmão, ele podia ter mentido para mim naquela época sobre os sentimentos do meu pretendente só para ver minha reação.
Um dia, passeávamos de bicicleta, quando, em uma parada para descansar, ele quis me beijar. Hesitei um pouco, claro, fazendo-me de difícil, mas me rendi. Afinal, a muito tempo esperava por isso.
A partir desse daquele dia, os beijos entre nós eram constantes, mas não significavam que estávamos namorando. Nunca falamos em namoro. E, na verdade, isso não me incomodava nem um pouco, pois, depois de tantas conversas e beijos, não sabia mais se ainda estava apaixonada por ele. Tínhamos sonhos muito diferentes. Eu queria fazer faculdade. E ele nem tinha tempo para pensar nisso, pois trabalhava demais e parecia contente com isso.
Em pouco tempo, ele arrumou uma namorada. E, passamos a trocar apenas ideias. Com o tempo, deixamos de nos encontrar para conversar. Encontrávamo-nos somente quando a coincidência permitia e falávamos apenas o indispensável.
Mas, apesar de não estar mais apaixonada, nessas coincidências, meu coração sempre disparava como antigamente. Creio que o dele também. Não sei o porquê que isso acontecia, mesmo eu namorando e amando meu namorado (que hoje é meu marido!). Talvez fosse porque nunca tenhamos falado claramente sobre nossos sentimentos um pelo outro. Na verdade, nós nunca nos declaramos. Talvez porque tenha sido uma história mal-acabada. Talvez, não sei.
Em: 26.07.2005
Modificado em: 29.03.2020