Tudo que eu queria te contar e não conto

Eu não te conto essas coisas, porque eu me conformo em guardá-las comigo para manter a amizade. Eu não sei por que sou a luz que vem na sua mente durante a escuridão. Eu realmente não sei. E doí meu coração saber que talvez um dia precise de mim e não vai me procurar, porque te contei isso. Não consigo pensar nisso sem marejar os olhos e sentir um nó enorme no peito.

Sinceramente, tudo isso é insignificante quando se trata de te ajudar quando precisar. Por isso mesmo, eu não te conto. Porque quero continuar sendo a sua luz.

Quando eu não tenho o que fazer, eu gosto de procurar a origem dos nomes e nesses dias procurei mais sobre o meu. O Google dizia que era “m.q (mesmo que) fogo de santelmo”. Já tinha lido esse termo em algum lugar, mas não me lembrava exatamente o que era esse tal fogo de santelmo. E de acordo com as minhas pesquisas, fisicamente, é um resplendor brilhante branco-azulado que, em algumas circunstâncias, tem aspecto de fogo de faísca dupla ou tripla, que surge de estruturas altas e pontiagudas como mastros, cruzes de igreja e chaminés. E o fogo de santelmo deve o seu nome a São Telmo, santo padroeiro dos marinheiros, mareantes e barqueiros, que haviam observado o fenômeno desde a Antiguidade e acreditavam que a sua aparição era um sinal propício e que acalmava a tempestade. E na Grécia, a aparição de um único fogo de santelmo era chamado de Elena. Os gregos realmente sempre tiveram um probleminha com o meu nome.

Obviamente, minha cabeça viajou na ideia. Lembrei-me do seu nome e de que era também de um dos apóstolos de Jesus, pescador, aquele que conseguia ver todos os lados das situações. E, os pontos se ligaram rapidamente. Eu entendi que Deus tinha me mandado para ser a luz para os marinheiros, como sinal de que o final da tempestade chegaria. E você sempre apreciou o mar. Você sempre disse que queria ser marinheiro. Por isso, eu nunca te contei. E nunca vou contar.

Não está tudo bem com essa história. Não está. Você leu tudo que eu disse e defecou em cima. Eu te entreguei meu coração e você simplesmente o encarou e não fez nem uma expressão facial para eu entender o que se passa. Apenas o encarou. Ignorou. E, virou para trás, de costas, para conversar com ela. Eu não sei sobre o que raios você falou com ela naquela noite. Eu sei que tomei um remédio pra dormir o mais rápido possível. E doeu absurdamente quando acordei e só tinha mensagens aleatórias. E os dois ticks azuis.

Passei a manhã toda pensando na mixaria que fiz. Eu perdi você. Fiquei todas as aulas pensando se valia a pena te perder desse modo. Só porquê eu acreditava que o que faltava era sei lá, saímos juntos de verdade, para se conhecermos realmente. Para conversarmos de verdade, como duas pessoas racionais fazem. Porque acreditava que estava nutrindo sentimentos por você. E eu perderia a sua amizade apenas por isso? Na minha cabeça aquilo não cabia. Eu não queria perder você, de qualquer modo.

Frustrada, eu mandei uma mensagem. Dizendo que queria ser só sua amiga e que estava tudo bem. Disse isso porque era o único modo de não te perder e eu acreditava que isso iria sumir se eu me esforçasse. Se eu tentasse reverter a minha visão para a Elena de 2018, que te via apenas como um irmão mais velho. Eu queria te ver apenas como um irmão mais velho, exatamente como antes, mas eu simplesmente não consigo. Não consigo pensar que um dia vai haver alguém maior do que você, que vai me cativar mais do que você e vai conseguir atingir um vínculo maior do que o nosso. Isso não cabe na minha cabeça. Claro, o fato de que você nem sequer quis ser meu amigo, nem correu atrás disso, me machuca. Não sei, talvez, a nossa amizade tivesse um ponto final naquele instante se eu não tivesse corrido atrás.

Eu não sou tão louca pra mudar tanto de sentimentos assim, do nada. Eu realmente mudo bem rápido, até pensei que isso aconteceria, se falasse pra todo mundo que mudou. Talvez a mentira se tornaria verdade.

Mas isso não aconteceu. Porque um dia percebi que tinha sonhado com você sete noites seguidas. Uma semana, sonhando com você. Em situações diversas. Várias vezes eram de mensagens. Eu nunca tinha sonhado com o whatsapp desde então. Achei um absurdo de estranho. E meu subconsciente tinha total razão, eu só pensava e fazia aquilo, por isso que essas cenas fictícias voltavam a noite.

Então, comecei a tentar me distrair com outras coisas, focar em outras coisas. Tentei começar um curso. Comecei a fazer o almoço e o jantar, mesmo sabendo dos riscos que isso tinha. Tentei ver filmes. Tentei falar com outras pessoas. Tentei passar uma ligação em grupo em inteira sem citar seu nome. Tentei não te fazer perguntas ridículas, não ficar pensando se você tinha conseguido isso ou aquilo, se a sua mãe estava te atormentando ou se você tinha decidido sobre o futuro.

Tentei escrever, porém, toda vez que sento diante de uma página em branco é você que aparece nelas. E estão brigando comigo porque ninguém aguenta mais esses textos repetidos. Que eu falo que estou frustrada porque me ignorou naquele dia, ou, que você só me procura quando o calo aperta. Que eu não entendo exatamente como você me vê. Que quero saber do por que diz que sou a única que quer conversar quando está depressivo ou por que conversar comigo "é diferente".

E sabe por que não faço essas perguntas? Porque vai me chamar de paranóica, dizer que nada disso é importante. Que o que diz não tem uma tese de 30 páginas. São só palavras. E eu que penso demais sobre o que você diz. Então eu escrevo. Jogo tudo isso para o papel, para ver se a minha mente se esvazia.

Eu não aguento mais berrar xingamentos no travesseiro quando lembro de coisas. De ser tão sentimental a esse ponto. De sentir tanto. Eu queria sentir menos. Queria realmente apertar um botão e me tornar indiferente, de ser exatamente como o ano passado, apenas sentir uma preocupação de irmã, de amiga. Mas isso se tornou absurdamente grande. Passou de uma preocupação natural, pra a única preocupação que realmente me importa. Nem a faculdade me preocupa tanto ao ponto. Nem meus livros ou meus sonhos aleatórios.

Eu conversei com o cubano comunista sobre isso. Ele realmente tem uma capacidade engraçada de entender a minha cabeça e isso me conforta de alguma forma. E chegamos a conclusão de que você era uma figura idealizada pela minha cabeça, porque quando estava em chamada em grupo, eu realmente não me importava com você. Não era a mesma coisa. Parecia outra pessoa. Então, eu resolvi parar de te chamar pelo apelido que te dei. Porque queria filtrar a imagem certa sua. E, seu apelido ajudou a minha cabeça a criar um personagem idealista sobre a sua pessoa.

Contudo, eu pensei, comigo mesma, e se você for você mesmo comigo? E com os outros você encarna outra pessoa? Você é você mesmo comigo ou com eles? Você é assim como é comigo com todas as outras pessoas que fala sozinho? Com ela? Com a sua amiga da faculdade? Se não, por que?

É, eu sou paranóica mesmo. Eu sou. Porque eu quero entender. Quero entender porque eu tenho essa exclusividade, se eu só sou a sua irmãzinha mais nova, psicóloga, ou sei lá como me classifica.

Se você tem medo de me machucar, porque eu "sou frágil demais", "porque eu sinto muito amor" ou porque eu sou "consideravelmente importante pra você". Tudo bem. Isso vai fazer mais sentido. Você é um medroso, de qualquer modo. Não arrisca. Só fica remoendo o medo. Sabe, talvez uma dia no futuro você olhe pra tudo isso e se arrependa. Por não se arriscar por medo.

Seguirei tentando te tirar da cabeça, tentando não escrever sobre isso. E

como diria Caetano Veloso, "Eu tenho os meus desejos e planos secretos só abro pra você, mais ninguém. Por que você me esquece e some? E se eu me interessar por alguém? E se ela de repente me ganha?".

Elena Estrela
Enviado por Elena Estrela em 30/03/2020
Reeditado em 30/03/2020
Código do texto: T6901783
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