A vida sem vaidades

A vida sem vaidades

Hoje, depois de dez dias sem sair de casa, meu marido e eu resolvemos passear com nosso filho de 4 anos, que está muito estressado em casa. Como vivemos no interior do Estado do Pará, no município de São João de Pirabas, é mais tranquilo sair de casa do que se morássemos na capital, Belém. Embora haja movimento de pessoas na rua, são apenas pessoas da cidade, pois o governo do município e do município vizinho, Salinópolis (que é ponto turístico), em parceria com o governo do estado adotaram medidas protetivas mais rigorosas (montaram uma barreira) para evitar o excesso de circulação de pessoas nas duas cidades. Fato esse que, sem querer puxar o saco de nenhum dos três, agradou muito a mim e a muitas outras pessoas que moram por estas bandas.

Enfim, resolvemos ir a um balneário a fim de tomarmos um banho. Antes, claro, meu marido ligou ao dono do local para verificar se estava aberto, se haveria muitas pessoas lá, se podíamos ir, etc. Ele nos informou que estava fechado, que estava fazendo sua parte para evitar a doença, mas que poderíamos levar nosso filho para descontrair-se lá. E, assim, fizemos.

Fomos. Meu marido e meu filho tomaram banho, passeamos pelo local (que é bem arborizado) e respiramos o ar puro da natureza. Parecia que estávamos no paraíso, apenas nós três. Meu filho brincou, distraiu-se, nem queria vir embora para casa.

Mas, na verdade, o que queria mesmo falar é sobre o que percebi ao me arrumar para sair. Percebi todo o trabalho que tenho, no meu cotidiano (antes da quarentena), para me arrumar: tenho que escolher roupa, sapato, batom, brincos, anéis, bolsa, o que devo levar, enfim, tenho que fazer várias escolhas até poder sair de casa. Hoje, nem estava com vontade de sair, pois estava com preguiça de me arrumar. Mas meu marido estava tão animado...

Percebi que estamos vivendo uma vida simples, sem vaidades, porque não estamos preocupados em mostrar uma boa aparência para ninguém, já que não estamos saindo de casa.

Em casa, não preciso me preocupar com roupas, batom, brinco, sutiã, sovaco depilado, etc., pois adoro ficar à vontade. Claro que há outras preocupações, como as coisas do lar. Mas faço todas no meu tempo, sem pressa (com exceção de cuidar do meu filho, claro, que é sempre prioridade para mim!). Aproveito o tempo livre para ler e escrever (coisas difíceis de se fazer no cotidiano!). Conclui que é tão bom ficar em casa, sem as vaidades do dia a dia.

Porém, ao chegar em casa e conversar (por WhatsApp) com uma amiga sobre os afazeres do lar, isso me preocupou bastante. Ela se queixou, porque estava trabalhando mais em casa do que quando saía, pois tinha roupas para lavar, faxina para fazer, etc. Então, lembrei que tenho muitas roupas para lavar também, pois, como faço tudo no meu tempo, estão se acumulando nos cestos (são 10 dias de acúmulo, Meu Deus!).

Não que seja uma Cinderela (tampouco, dondoca), mas também não quero transformar-me em uma Gata borralheira. Fiquei com medo de virar uma “mulher de verdade”, uma Amélia, como diz a música de Mário Lago e Ataulfo Alves. Nada contra as Amélias, claro! Mas percebi que tem muito trabalho para fazer em casa, os quais quase não percebo por passar o dia fora no meu cotidiano. E, quando chego, já encontro quase tudo resolvido.

Pela minha saúde e de minha família, espero o tempo que for preciso em casa. Não pretendo realizar nenhuma manifestação contra a quarentena. Só espero que o pico dessa doença passe logo e que a cura seja encontrada o mais rapidamente possível para voltar ao trabalho, pois me deu uma certa saudade daquela vida de vaidades...

Em: 28.03.2020

Adriane dos Santos
Enviado por Adriane dos Santos em 29/03/2020
Reeditado em 01/04/2020
Código do texto: T6900997
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