Amizade entre homem e mulher
A ideia deste texto surgiu depois de ter assistido a uma cena de novela, na qual o personagem principal encontra a mocinha conversando com um amigo e, morrendo de ciúmes, diz que entre homem e mulher não há amizade. Foi então que lembrei de um amigo do ensino médio: o Alexandre.
Essa lembrança, trouxe-me saudades daquele tempo e de nossa amizade, que começou de um jeito meio engraçado. E é sobre essa história que vou contar.
Sempre estudei em escola pública (me orgulho muito disso!). Lembro que, sempre em início de ano letivo, ficávamos muito ansiosos para conhecer a sala, os colegas, rever os amigos antigos, etc.
Era dia de apresentação na escola, iríamos conhecer nossas respectivas salas de aula, pois tínhamos acabado de passar para a 2ª série do ensino médio.
Todos estávamos em um salão, aguardando o momento de sermos chamados para ver onde ficavam nossas salas.
Já estávamos impacientes com a demora. E, para completar, havia um engraçadinho que não parava de falar e fazer palhaçada com a coordenadora pedagógica e com todos os que se atrevessem a dizer algumas palavras aos estudantes. As brincadeiras me irritavam sobremaneira, contribuindo para que ficasse mais impaciente. E, eu não era a única. Minha amiga, que estava ao meu lado, também estava irritada, pois queríamos saber logo se ficaríamos na mesma sala ou não. E torcíamos para que o engraçadinho não caísse em nossa turma. Depois de sabermos que ficaríamos em turmas diferentes, fomos embora, decepcionadas, para nossas casas, esperar o início das aulas. Que já não seria o mesmo.
No primeiro dia de aula, cheguei, dirigi-me para minha sala, entrei, sem falar nem olhar para ninguém, pois era muito tímida e não conhecia ninguém. Todas as caras eram novas para mim. E não tinha minha amiga para conversar.
Então, lembrei de procurar o engraçadinho, pois minha amiga e eu fizemos um acordo de informar uma a outra sobre ele, porém, não havia olhado no rosto do basbaque. Não tinha como saber quais dos meninos poderiam ser ele. Mas não foi difícil encontrá-lo. Bastou a vice-diretora entrar na turma para informar sobre nossos horários para as piadinhas começarem. Foi, então, que reparei bem na cara do panaca. Ele estava sentado na carteira ao meu lado. Fulminei-o com os olhos.
A vice-diretora foi ditando os horários tão rapidamente que não consegui acompanhá-la. Então, perguntei a ele se tinha conseguido acompanhar para me emprestar. Nem preciso dizer que ele não tinha copiado, pois se ocupava apenas em brincar. Como era muito tímida, pedi para o comediante, já que gostava tanto de aparecer, que solicitasse à direção a repetição do horário. Para minha surpresa, ele ficou com vergonha de pedir. Isso, para mim, foi a “gota d’água”. Disse poucas e boas a ele. Ele ouviu calado e com um risinho amarelo.
Depois desse episódio, seguiram-se outros dias. Fiz minha primeira amizade com um garoto que, ironicamente, era amigo do “Didi mocó” da sala. Daí foi um passo para nos conhecermos melhor e nos tornarmos amigos. Depois de conversarmos, mudou sua postura desrespeitosa. Assim, os três nos tornamos parceiros inseparáveis de trabalhos e brincadeiras ao longo do ano letivo. Logo, nosso grupo aumentou, transformando-se em um quarteto.
No entanto, quando passamos para a 3ª série, o primeiro amigo que fiz transferiu-se para um colégio particular (pois acreditava que teria um melhor ensino lá!). A outra colega do quarteto arranjou novas amizades. Somente o Alexandre e eu permanecemos juntos ao longo do novo ano. Nossos laços de amizade fortaleceram-se cada vez mais. Tornei-me sua confidente. Ele sempre me contava quando viajava, quando tinha problemas em casa ou com a namorada. E sempre me ajudava com passagens de ônibus, quando eu precisava. Dizia para ele que lhe pagaria tudo no montão no fim do ano, igual ao seu Madruga. E, igual a esse, nunca paguei.
Nossa amizade ficou tão íntima que, no momento em que ele foi apresentar-me a sua família, todos já me conheciam. E gostavam de mim. Isso me emociona até os dias de hoje.
Mesmo depois de concluirmos o ensino médio, eu os visitava sempre. Porém, depois que passei para a universidade, passei a visitá-los menos, a ligar menos. Até que perdemos totalmente o contato.
Um dia, o vi passando na rua, estávamos meu namorado e eu. Fiquei tão feliz, mas não tive coragem de chamá-lo. Tive medo de ser muito expansiva e acabar deixando meu namorado enciumado, igual ao rapaz da novela. Então, ele foi embora sem ter me avistado. Acho que teria ficado feliz também em me ver. Quem sabe, uma hora dessas, eu apareça em sua casa ou ligue para conversarmos sobre nossas vidas. Quem sabe convidá-lo para a minha formatura, que se aproxima. Gostaria muito que retomássemos aquela amizade de outrora. Ela, certamente, desmistifica a ideia machista de que não existe amizade entre homem e mulher.
Criada em: 26.07.2005
Modificada em: 27.03.2020