O homem dos sonhos
Julieta era uma mulher independente e trabalhadora. Feminista convicta, nunca quis casar-se, pois não queria ninguém mandando e desmandando em sua casa e, tampouco, nela.
Sempre que se reunia com as amigas (todas casadas!) do antigo colégio ouvia sempre as mesmas reclamações: era um marido desligado; outro que esquecia a toalha molhada em cima da cama; outro que deixava a tampa do vaso levantada (e respingada as bordas do vaso!); e assim por diante.
Ao ouvir essas histórias, Julieta sentia-se aliviada por não ter esse tipo de problema. Mas, um dia ela acordou triste por não ter alguém ao seu lado na cama e na vida, por estar sozinha.
A partir desse dia, todos os demais passaram a ser da mesma forma: sempre que levantava, sentia falta de algo, isto é, de um “Romeu”.
Certa vez, no caminho do trabalho, Julieta avistou o que parecia ser “o homem dos seus sonhos”. Ao vê-la, ele também sentiu o coração bater mais forte. Conheceram-se, trocaram telefones e telefonemas. Era, era ele mesmo, “o homem dos seus sonhos”.
Em uma semana, começaram a namorar. Em um mês, resolveram morar juntos. Ela largou o emprego, pois o seu “Romeu” achou melhor que fosse assim. Afinal, o que ganhava era suficiente para manter a ambos. Julieta concordou. Achou que precisava mesmo descansar um pouco.
A primeira semana de convivência foi uma maravilha. Julieta acordava feliz por ter o “homem dos seus sonhos” a seu lado todas as manhãs. Na segunda, ele esqueceu a escova de dentes na pia do banheiro. Mas, tudo bem, afinal era um homem pontual e não queria atrasar-se para o trabalho. Na terceira, não apenas esqueceu a escova na pia, mas também a toalha em cima da cama. Na quarta, deixou a escova na pia, a toalha na cama e a tampa do vaso levantada. Na quinta semana, deixou escova, toalha, tampa do vaso e não sabia mais onde ficavam as cuecas. Isso foi o fim! Julieta achou que seu “homem dos sonhos” estava ficando real demais e resolveu deixá-lo.
Quando chegou em casa, ele não a encontrou, mas sim um bilhete dizendo “Adeus”.
Julieta voltou ao antigo trabalho e à antiga vida. Estava tranquila, mas ainda apaixonada. Todas as vezes que o via, suspirava. Pensou muitas vezes em voltar, pois ele era realmente o “homem dos seus sonhos”. Mas preferia que ele continuasse assim...
Em: 17.11.2003