EM QUARENTENA
Então, eu me fiz bonita "como há muito tempo não queria ousar".
O sol pousou forte na Janela do quarto e me despertou. Perfume do café subia pelas escadas, dominando o ambiente aquecido pelos raios solares. Fiz o de costume. Havia, já na madrugada elevado preces.
Abri o celular ... textos, textos e mais textos. Tragédias anunciadas, dores e temores.
Atendi o chamado insistente e cativante do café. Ganhei a cafeína necessária para animar meu corpo um tanto combalido pelos dias anteriores. Olhei a rua silenciosa, vi outra vez o sol, afaguei a Nina. Tomei decisões.
Tirei a roupa de dormir, tomei um banho mais caprichado, borrifei-me com o melhor perfume. Vesti a roupa comprada para uma viagem, que fora abortada, vítima da pandemia. Roupas novas, sim, para passear pelo quintal, pela casa e ver amigos pelas redes virtuais. E perfumada!
Temia que a calça jeans não me coubesse, após adquirida, visto o exagero da alimentação atual. Menos mal, entrou a roupa.
Espelho denuncia que a queda de cabelos voltou. Talvez consequência de tanto sofá, cama, espreguiçadeira. Corpo preguiçoso. Tomei cápsulas que deram resultado bom, porém os cabelos rebelaram-se, novamente. Coisas da quarentena.
Há menos de um mês, tive episódio preocupante em relação à saúde. Fui hospitalizada, passei por exames, saí ilesa, com a Graça de Deus. Sem sequelas. Serviu para provar quanto são importantes minhas frequentes orações. Delas não abro mão.
O novo vírus aí está e eu me preservo. Sempre ouço a voz de minha mãe: "meniiiinaaa, canja de galinha e cuidados não fazem mal a ninguém!" E de meu pai: "Filha, dê tempo ao tempo!" Estou ótima, eles eram sábios.
A quarentena completa meu resguardo, que já acontecia. Dela tenho tirado lições grandiosas. Tudo estacionou, mas o cérebro, o coração e a alma continuam atuando, Graças a Deus!
Empresto as palavras de Guimarães Rosa: de primeiro meu coração sabia bater copiando tudo, hoje eu desconheço o arruído rumor das pancadas dele... Viver é muito perigoso!
E que possamos nos dar os braços, "como há muito tempo não se usava mais..."
Tenham todos excelente domingo!
Dalva Molina Mansano
29.03.20