Diário de um enclausurado

Diário de um enclausurado

25 de março – o drama aumenta

A clausura continua e a doença passeia livre pelo mundo vazio e solitário. Afinal, onde está o mundo que eu conheci ou pensava que conhecia. Empresários, donos de empresa, brigam pelo capital e empregados, lutam para se manter vivos de qualquer maneira. O vírus deixará sintomas que serão tratados hoje e sempre.

Sozinho, percebo que as pessoas, inclusive eu, vivíamos hoje, amanhã, era a sorte de existir. A partir de agora, devemos contabilizar a vida, guardando para futuras catástrofes. A ostentação de nada vale ou valerá em crise continental. O mundo aprenderá a economizar para viver. Donos de empresa deverão ser empresários para que suportem as agruras com mais empatia e tranquilidade.

Olho da minha janela e vejo escombros de uma humanidade. A mídia apresenta a ciência e imbecis-úteis, gado mesmo, desautorizam com discursos de ódio e frases clichês e pueris. Meu Deus, onde estais que não me ouves! E a fé? Deve-se continuar pagando o dízimo para alimentar o o pastor que não se preocupa com o rebanho. Eli, Eli, aba sabactani!

A noite chega, mas não há distinção de dias, horas, a vida é a mesma para quem tem quatro paredes e a si mesmo para conviver. O líder – pelo menos, deveria ser – faz um pronunciamento que enoja e dá ânsia de vômito. O maior isolado é aquele que pensa que seu berrante acorda o gado; eis o isolado social e político. Estamos à deriva!

O dia passou da mesma maneira que começou. Eu estou comigo e com todos, mas isolado entre quatro paredes, porém, livre em minhas leituras e reflexões. Hora de dormir. Sonhar para ter a sensação que “amanhã vai ser outro dia”.

Mário Paternostro