É uma casa muito engraçada
Não posso afirmar por todos, mas com certeza, a grande e esmagadora maioria das pessoas que leram o título desta crônica pensaram imediatamente numa música que na década de 80 do século passado foi um dos maiores clássicos cancioneiro infantil na voz de um grande poeta nascido no ano de 1913. Mas a diferença está justamente e também no tempo verbal.
Enquanto aquele clássico musical infantil diz que a casa era, passado, e talvez deixou até de ser como ele descreve ao longo de sua canção, nesta minha crônica eu digo que a casa é, presente, e continua sendo até que o povo brasileiro adquira consciência da sua real posição enquanto cidadão na sociedade em que está inserido.
Vou colocar aqui uma frase para dá início a nossa reflexão: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Pronto!
Toda vez que vejo na televisão ou ouço nas rádios situações em que nossos representantes tomam decisões sem nos consultar, aprovando leis que ao invés de melhorar nossas situações de vida e trabalho, acabam, na verdade, por ampliar o seu domínio sobre nós, fico a me perguntar como é que aquele que escolhi para administrar algo nosso toma decisões desfavoráveis somente contra mim.
Imagine só se o advogado que você contratou para defender um problema seu na justiça faz um acordo onde somente você saiu perdendo. Todos os demais envolvidos no litígio se beneficiaram de alguma, menos você. Não seria estranho?
Não consigo entender que ao final do trânsito legal para aprovação de uma lei aqueles que nos representam dizem que a melhor decisão que eles conseguiram chegar foi justamente aquela que no “frigir dos ovos” restringe mais uma vez nossos direitos, os direitos do povo. Muito estranho, mas, muito mais estranho do que isso e vê a população concordar facilmente sem reivindicar, e quando digo reivindicar, digo de forma legal, de forma ordeira, como por exemplo, uma ação popular. Parece que não demos àqueles apenas o direito de nos representar mais também a capacidade de pensar por nós.
Outro fato muito irônico que me incomoda bastante e é justamente o título deste texto é quando os nossos próprios representantes dizem que as casas legislativas são a casa do povo brasileiro. Hum. É brincadeira isso.
Como é que a câmara de vereadores da minha cidade é a minha casa, mas eu não posso entrar nela para discutir propostas, opiniar sobre decisões que irão influenciar para sempre na minha vida enquanto cidadão ou profissional, como por exemplo a aprovação de uma reforma trabalhista? No estado em que resido, no dia da votação para aprovar a proposta de emenda constitucional do estado realizado na assembleia administrativa onde os deputados estaduais trabalham, os cidadãos foram impedidos de entrar para acompanhar a votação chegando ao ponto de chamarem à polícia para expulsá-los do local a base de cassetadas e gás lacrimogêneo. É uma casa muito engraçada mesmo.
Eu, você meu amigo, cidadão, impedidos de entrar, segundo eles mesmos, na casa do povo, ou seja, na nossa casa. Eu não posso entrar na minha casa sem que outros autorizem?
Enquanto o povo não entender que um país é como uma empresa onde cada um de nós somos acionistas, onde elegemos um presidente para administrá-la a nosso favor e que a nossa decisão é que deve prevalecer e ponto final, ou melhor, é impossível coletar opinião de todos ou da maioria toda vez que se queira decidir algo, sendo assim, aquilo que deve prevalecer deve ser sempre aquilo que de fato vai melhorar a vida social e econômica da maioria da população. Quando entendermos isto, estaremos dando o primeiro passo para ocupar de fato nossos legítimos lugares em nossas casas.
(Por Djalma Filho)