Aqui se encontra meu coração

Pediram-me para escrever com todo o coração, porque quando o faço o ibope é significante. Acho contraditório as pessoas gostarem de ler sobre sentimentos e pensamentos alheios. Talvez seja pelo motivo de se identificarem e se sentirem melhores por não estarem sozinhos nessa tal luta que se chama viver.

Explicar o que se passa no meu coração parece complexo e tenso nesse instante. Não sei se deveria tocar nesse ponto. Mas, o farei, visto que além de me ajudar a aliviar esses pensamentos destrutivos, prezam por ouvi-los.

O meu temperamento melancólico me permite gastar horas e horas em uma pura e apreciada tristeza desnecessária. Eu coloco o meu fone de ouvido e escuto músicas com letras que demonstram como o compositor estava frustrado e deprimido. Às vezes escrevo alguns versos, às vezes danço músicas em espanhol e quase sempre vejo palestras no TEDx Talks que falem sobre superação. Nesses dias, vi uma sobre uma mulher que conseguiu encontrar a sua alma gêmea e aparentemente estavam casados por mais de 8 anos, mesmo com discussões e brigas. Começo a acreditar mais que pode ser possível encontrar a metade da laranja, a parte que me falta. Uma chama da esperança balança levemente dentro de mim.

Eu, sinceramente, acredito que essa tensão do coronavirus tenha me feito não encontrar ar para respirar. E, me culpo, a todo instante por ter deixado o hiperfoco controlar e colocar todo o sentindo em uma única pessoa. Agora o ar que eu respirava vazou. Literalmente. Ele me deixou. Posso ser a garota mais dramática por dizer isso, mas de fato, ele nunca foi nem alguma coisa para sequer ter me deixado. Ele não deixou nada, apenas continua com a vida. Eu deveria ter cortado isso desde o começo. Eu deveria. Ter me protegido quando tive tempo.

Quando ele precisou de mim, eu estava ali, usando todas as minhas fracas forças físicas e as fortes psicológicas. Usando cada pequena energia que restava da minha bateria, que gritava para ser recomposta e como uma boa teimosa, mesmo assim a gastava até o limite. Até um dia que tive que dormir 20h seguidas, para pelo menos conseguir abrir meus olhos e digitar alguma coisa. Ele mal tem ideia, de que foi o único motivo para que eu engolisse cada grão que tive que engolir naquela semana. Eu pensava “por ele, por ele, vamos, ele precisa de mim agora”. Eu me recompus graças a ele, por ele e para ele.

Contudo, ele não precisa mais de mim agora. Eu já fiz o meu trabalho. E, porventura, seja por isso que eu esteja tão descabida e descabelada. Pelo motivo de que entendi agora que sempre foi só isso. Eu sempre só fui a psicóloga, a conselheira oficial, todas aquelas palavras eram apenas um modo de agradecer por isso. Porque ele só não sabia como contribuir. Então, um pouco de atenção gratuita seria o suficiente. Isso já passa pela minha cabeça a muito tempo, sempre me perguntei se ele estava falando comigo pois se sentia na necessidade de retribuir, e agora, faz todo sentido. Ele conversava pelo simples fato de que não tinha mais outra coisa para fazer e aproveitava-se disso para se sentir menos endividado. Não como eu, que gostava da companhia e não gostaria de estar em qualquer outro lugar além daquele. Que abandonei quase todos meus compromissos para apenas me deitar na cama e digitar.

Atualmente, eu percebo o quanto as coisas se repetem sempre.

“Você tem um coração tão grande, eu invejo muito quem receber tamanho amor que você carrega dentro dele.” um grande amigo meu me dizia “Quando você ama algo, você se entrega por inteiro. Isso pode ser um problema, pois, alguém pode se sentir sufocado demais e você pode se machucar muito diante disso. Mas um dia vão perceber o quão raro é encontrar alguém assim e você vai ser muito feliz sendo exatamente como você é.”.

Hoje, sentir tanto amor, me doí, me corroí, gasta todos meus pensamentos e minhas ações. Minhas escolhas. Minhas veias gritam pedindo para que bombeie mais sangue para elas e não para pessoas de fora. Meu psicológico implora para que eu pense, escreva, faça qualquer coisa além disso. Meu chefe grita dizendo que “há coisas mais preocupantes no momento.”. O palestrante do TEDx Talks diz que a decepção amorosa termina quando você resolve pôr um ponto final e driblar os pensamentos que te levam para o ciclo eterno, que é se lamentar por não ter dado certo.

Hoje, eu o compreendi. Eu tenho a chave. Eu sei acabar com esse sofrimento todo. Exatamente como eu o dei a chave naquela noite. Eu posso abrir a porta, posso sair desse labirinto. E, eu não o faço, porque simplesmente preciso passar pela primeira etapa da dor que é senti-la. E, muitas vezes, a dor é sentida por um tempo indeterminado. Esse tempo que vai te trazer ar suficiente para ter capacidade de mover as mãos e destrancar a porta.

Elena Estrela
Enviado por Elena Estrela em 27/03/2020
Reeditado em 30/03/2020
Código do texto: T6898860
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