Crônica da Insensatez (em tempos de Coronavírus)
Nunca imaginei que às portas do meu texto de número 200 aqui no RL se avizinhassem momentos de tamanha efervescência de medo, insensatez política e falta de proteção social aos milhões de brasileiros.
O famigerado Coronavírus não respeita fronteiras, etnias, diferenças religiosas, classe social e infelizmente até mesmo condições climáticas.
Iria ele respeitar então as divergências de ideologia política?
Como já pensava o grande filósofo Sócrates, alardeado por seu discípulo Platão, com a célebre assertiva "só sei que nada sei", estamos todos mergulhados no caos de informações excessivas, contraditórias e muitas vezes falsas que nos atingem sem parar.
Como numa embarcação em que a bússola gira para todos os pólos, sem nos fornecer um norte seguro.
Multiplicam-se os oportunistas da internet: surgem do nada "doutores" sem formação e sem diploma espalhando conteúdo sem qualquer embasamento científico.
Mais espantoso ainda é nos depararmos com políticos sem nenhuma competência científica do ponto-de-vista médico, emitindo opiniões sobre uso de remédios e conclamando a população a ir para a rua, em tempos de alto risco de infecção por um agente viral ainda desconhecido, que em verdade muitas vezes causa pneumonias graves e não apenas "resfriado".
Será que tais políticos sabem o que significa o conceito de portador assintomático? Comorbidade? Carga viral? Quanto aos medicamentos: efeitos colaterais, contra-indicações e interações medicamentosas?
Pensando bem, não precisa ser cientista para constatar que muitas famílias, com avós, filhos e netos convivem em um ou dois cômodos sem ventilação mínima. Não é preciso "pular no esgoto" para levar vírus para casa. Basta por as mãos em alguma superfície contaminada, já que o tal vírus pode sobreviver por até 10 dias em áreas plásticas ou metálicas.
O que advém dai? medo, insegurança, risco de contaminação e até mesmo de morte. Possibilidades de levar a doença para casa atingindo de forma avassaladora os idosos mais frágeis, todos ao mesmo tempo com possíveis complicações respiratórias, sem material humano e hospitalar para os atender, sem respiradores artificiais para todos.
Governantes que assim o fizeram, conclamando à exposição irresponsável da população, hoje se declaram arrependidos pelo elevado número de mortes.
Aqui cabe um parênteses: muitos políticos que em tempos de medo e crise oportunamente criticam as autoridades federais fazem e fizeram parte de outras hordas, que anteriormente também contribuíram (e ainda contribuem) para a desvalorização do SUS e de seus profissionais, do médico ao porteiro.
Agora todos saem às varandas aplaudindo os pobres profissionais de saúde, que se expõem ao risco e cuidam dos doentes sem equipamentos de proteção individual adequado. Imagine ir para uma guerra sem comida , sem água, sem um mísero capacete? Basta ver o número crescente de profissionais de saúde contaminados precocemente.
Tratar a saúde como mercadoria , não equipar os hospitais e ambulatórios, pagar mal a quem atende as necessidades básicas de saúde, priorizar o tal "mercado", salvar bancos e montadoras e relegar as pessoas a segundo plano resulta nisso.
Mas não adianta lamentar o passado. Se faz mister agora a união dos grupos políticos, independentemente de sua corrente doutrinária, sem oportunismos. Afinal, o próprio oportunista poderá se contaminar em cadeia.
Os governos federal, estaduais e municipais tem que abrir os cofres e repassar recursos aos mais carentes, para que possam suportar o período de distanciamento social. As empresas privadas precisam de canais de ajuda dos governos a fim de renegociarem suas dívidas e não demitir. Os bancos e financeiras precisam reduzir sua margem de lucro e estender ou adiar prazos de financiamento pessoal, habitacional, veicular ou empresarial. As operadoras de planos de saúde tem que cobrir os gastos de seus usuários e não apenas repassar ao SUS. Temos mais respiradores artificiais privados que públicos, e mal distribuídos pelo território nacional.
Se ninguém pagar, ninguém recebe. Todos vão ser atingidos, mais cedo ou mais tarde.
Para finalizar esta mórbida obra: O Coronavírus é de baixa letalidade, mas alta infectividade; quer dizer mata relativamente pouco, mas se espalha com incrível velocidade. A questão é que nos grupos de maior risco, com outras doenças associadas a mortalidade aumenta exponencialmente, chegando à casa de 13 a 14% em muito idosos. E pelo seu alto risco de contaminação pode tornar muito sintomáticos e infectantes muitos indivíduos mais jovens, dos 20 aos 50 anos, ao contrário do que estão dizendo nossos "políticos doutores". Sendo ou não atleta, o jovem não está imune e em casos esporádicos pode adoecer de forma intensa e até mesmo morrer.
Fique em casa se possível, pelo maior tempo possível. Precisamos limitar a circulação do vírus, pois muitos podem transmiti-lo sem ter sintomas. Proteja até mesmo aqueles que pela natureza do seu trabalho, como transporte, abastecimento, segurança, saúde, infraestrutura, etc., não podem se isolar. Menos gente na rua diminui o número de infectados e transmissores, obviamente.
Lave as mãos e etc...
Ignore as bobagens que são vomitadas diariamente por quem nada entende. Procure fontes confiáveis de informação, como por exemplo os sites de organizações médicas e de saúde. De saúde entende quem é do ramo. E ponto final.
Sua vida, seu futuro e o de quem você ama depende disso...