Quarentena
Há alguns dias não saio de casa. O isolamento social enfraquece minha saúde emocional. Estava vivendo meus dias freneticamente, com muitos compromissos diversificados. Adorando aquela vida cheia de gente, de emoções, sorrisos e às vezes lágrimas, de estrada, de velocidade... Cenas de abraços, de beijinhos (por aqui cumprimentamos amigos assim). Processos, casos, prazos, correria... Banhos para descansar, pernas para cima e um gole de café amargo. Cantoria, barzinho na sexta-feira. Almoço de domingo com a família na casa dos meus pais. Missa no domingo. Na segunda-feira, tudo outra vez. Mas, de repente, foi preciso parar. Recolhimento. Silêncio. Ando observando que os passarinhos sumiram... Eles não têm cantado como antes. Eu os procuro no céu de janela, ou no céu de quintal. A mangueira no meu quintal parece vazia de ninhos de passarinho. Para onde foram? O silêncio da rua fala alto demais! O silêncio no meu peito grita no deserto. Sofro... É preciso traçar novas metas, caminhos. Preciso definir propósitos. É imprescindível treinar uma rotina nova. E valorizar as novidades. Fiz bolo. Isso é incrível! Uma bagunça na cozinha, muita coisa para lavar, porque a prática é escassa. E ficou bom, pois pouco sobrou. Meus filhos precisavam dessa mãe servidora. Sorriram e lamberam os dedos (em casa pode). Isso é bom, não? Mas não posso olhar além da janela, não posso pensar no mundo enlutado, sofrido. Não posso pensar na ameaça. Evito vídeos, reportagens. Não quero encher minha vida de medo e de paz rara. Quero a confiança de antes, a paz para abraçar, a esperança para plantar, adubar, molhar, cuidar. Quero sentir a presença verdadeira de Deus, para descansar sob suas asas protetoras. Depois do descanso, forte e revigorada, encarar com coragem o novo dia. A noite dura até o alvorecer...