Um dia de um mês de um ano
Um dia datado. Dezessete de julho do ano de dois mil e sete. Coincidentemente, ou não, um número curioso. Talvez quisesse dizer algo. Talvez não, apenas uma coincidência. E nesse dia descubro-me tomado dessa paixão. Uma paixão agora com forma e corpo. Uma paixão ao meu lado e comigo. Uma paixão que me deixa trêmulo. Uma paixão que me assusta. Uma paixão que não consigo resistir. Uma paixão! E é dela que gostaria, em linhas breves, contar-lhes seu impacto em mim.
Meio que sem querer, ou não propriamente tão sem querer, visto que de mim não me permitia admitir a tua presença assim, tão imediata em mim, eu lá estava com os meus pensamentos emaranhados no teu toque, na tua respiração, no teu beijo, e assim por dizer, em você. E eu que não costumava ser nada dado a me entregar a meus sentimentos, vi-me por eles impelidos a alimentá-los de ti.
Com todas as minhas forças existentes, quereria colocá-los a meu bel-prazer, tendo-os apenas comigo. Mas isso me parecia solução de um covarde que se engana com suas próprias verdades. O não querer já parecia não fazer parte de mim, sendo apenas externo por condicionantes vindos de lugares diversos. A sentimentalidade em sua necessidade havia sido comprimida a ponto de me escapar a sua beleza, fazendo-me enxergá-lo, tu, minha paixão, como anomia e, por ocasião, também a querer-te por perto.
Os tempos em que de você apenas uma idéia fazia, foram proféticos. Era como se tudo estivesse em desordem onde se poderia estar, e eu, apenas eu, sendo para mim e por mim o grande criador, diretor, roteirista, àquele que conduzia a sucessão dos acontecimentos previamente, logo sem surpresas. Mas parece que a força do meu desejo, a intensidade que eu colocava na nossa “história” particular, por só minha ser, o sentimento e a ilusão característicos de quem fica apenas no sonho, idealizando, lhe trouxeram pura e simplesmente sem me avisar que a realidade não mais estaria sendo só por mim pintada, seria, portanto, uma construção que envolveria conflito, o que a mim sempre assustou.
Recolhi-me de mim buscando em ti alguma, ou quem sabe, outras respostas. Nem estas, tão pouco aquelas, obtive desde então. Ficou uma confirmação: aquilo que deveria ser extinto – não sem muito penar – foi reavido e vividamente trazido por ti. A raridade da vida te fez ser o viver que a mim eu tanto disse que viveria, sem noção, dimensão, mas talvez com razão, coesão. Isso duma coexistência inerente e livre, independente de mim, diria. E tu, em momentos tão distantes te configuraste de forma querida, pedida. Ao passo que também era temido e acentuadamente não tão querido.
A voz balbuciada da tua boca, a linguagem estabelecida por tuas mãos e o sentimento, meu reflexo, do teu olhar, ao passo que a razão proposta em tuas falas, os valores ditos em teus gestos, as verdades e idéias impressas em teus pensamentos, estavam num território pré-existente de mim. Eram propulsores e, paradoxalmente, inibidores do meu sentir, agir, querer, fazer. Como se num jogo de pesos e contrapesos, eu já não me encontrava no controle de absolutamente nada. E em tal território minha imaginação me levava presente e ausente. E como se uma vez estando nesse território, e outra não, conjecturava saber da beleza e agruras por mim e por ti a serem vividas.
Não havia mais o que racionalizar sobre ti em minha vida. Isso eu unicamente sabia e, por fim, aceitei. Já te fazias parte dela como eu nunca pensei ser provável. Mesmo no meu muito querer, simplesmente evitava. E como eu temi. Como temi!… Também não poderia desprezar o que até então havia me feito criador, diretor e roteirista de um enredo existente lá, no aparente distante mundo das idéias, e só. Mas tu, meu sentimento e querer “impossíveis”, minha forma de viver abstrata, foste capaz de insurgir para na minha vida ser constituinte de uma história, uma realidade, uma verdade. E a isto, perante tu, não há mais o que remediar.
E nesse dia eu disse para mim: “De ti, apenas vivo. Contigo, simplesmente quero. Para ti, de fato sou. Por ti, nada sei de mim”.
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Escrito em 17/07/2007