Divagações cotidianas I

Sentado no meio fio de qualquer rua desta minha Sampa como se não exigisse nada além de reprimir meu olhar insolente pendurado nas jovens mulheres de calças jeans e agasalhos curtos donde se entrevê suas barrigas que não sentem o frio da entrada lenta deste inverno incerto, quando a noite se torna uma coisa prematura e o dia tarda a pintar as cores da vida nos prédios, nas ruas.Com a velhice que eu previa futura, presente em meu andar, no velar dos olhos, nos intervalos descuidados da memória, desta cansada realidade.Retorno do passado, as voltas do mundo, as curvas da vida, levantando uma poeira de flores, um acorde de harpas,e um incógnito vento gelado de passado que me encrespa a pele, trazendo no langor do anoitecer, o seguro porto do ocaso.Elegantes estrelas em sua aristocrática individualidade, estremecem minha alma com seu esplendor alado.Neste vago e prateado luar que guardei na retina e roubei para lembra-lo em novos sonhos e quem sabe acrescenta-lo aos que já sonhei, preciso que a criança que vive em mim, se aposse do que sou e me faça crer nos meus sonhos.Como adulto não ouso torna-los reais, os vejo românticos em excesso, com defeitos, inconsistentes.Como se houvesse consistência e lógica na louca vida que me encarcera, se impõe a mim, como se eu lhe desse consentimento.Mesmo condenado à realidade, não abdico dos sonhos, pretensiosos, imaturos, defeituosos.Levanto e ando na busca insensata desta perpétua novidade que sou convidado a conhecer pela liberdade que os anos conquistaram da vida. Meus olhos buscam inquietos motivos que não me prendam ao sonho, me empurrem realidade adentro, bêbado de realidade, equilibrista de mim vou traçando nas calçadas da minha terra um caminho torto e sem rumo pés imersos nas calçadas de pedras portuguesas esquadrinho as pegadas incertas de alguém que procura a si mesmo.As aspas que se formam em meu cenho deixam nuas minhas preocupações escondidas.Melhor sonhar deixar viver o meu sonho adormecido, antes que a prevista velhice me ausente de mim e me faça viver a realidade inconteste do fim de todos os sonhos.

Carlos Said

Dias de Sampa

Recanto das letras

Carlos Said
Enviado por Carlos Said em 11/10/2007
Reeditado em 12/09/2016
Código do texto: T689690
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