Lembranças de Minas
Saudades da minha Minas Gerais da infância. Tempo de correr de pés descalços quando a mãe pedia para ir a venda do Caetano comprar arroz a granel, e quando lá chegava deslumbrava com os doces na vitrine do balcão. O suspiro quadrado colorido nas cores amarelo, rosa e branco. O cone de doce de leite, e por sinal doce mineiro. A chupeta de açúcar caramelizada. O pé de moleque crocante em pedaços e também o pé de moleque moído o meu preferido. O guarda chuva de chocolate. Os doces de amendoim. Os pirulitos de caramelo e as balas saborosas de frutas. Tudo isso eu nunca mais experimentei e vivo na lembrança como a felicidade da infância. Mas também recordo dos aromas, das casas mineiras que exalavam o cheiro das quitandas e café passado no coador de pano. Minha casa tinha como nas outras da vizinhaça a fartura não mais vista nos dias de hoje. O pão de queijo era feito e assado todo dia, mas tinha também a broa de fubá e pangó, o bolo de mandioca mais delicioso do mundo. E as visitas não iam embora sem tomar o delicioso café da tarde. E o melhor de tudo, pessoas saiam para fazer visitas aos parentes em um só dia, e aí em cada casa tinha que experimentar o café e as quitandas da dona da casa, e caso se recusasse seria uma desfeita para a família visitada. Enfim o visitante lanchava em todas as casas visitadas.
A minha infância guarda muitas memórias, muito felizes por sinal, e em tudo a presença dos aromas e sabores. Da escola recordo quando degustava jabuticaba. Minha escola era simples, as crianças eram felizes, e havia um pomar no fundo da escola, nosso lanche, além do que nossa mãe colocava em nossas lancheiras, eram as frutas, e na época da jabuticaba ficávamos entretidos no recreio colhendo e nos empanturrando dessa fruta deliciosa.
A casa de meus avós é lembrada pelo chá de erva doce com biscoito de polvilho. Eu achavo tudo lindo, as canecas esmaltadas, o bule bem ariado, para quem não sabe as donas de casa ariavam suas panelas e tinham orgulho de deixa – las brilhando. Eu observava a prateleira de tábua de minha avó, coberta de um forro branco bordado, com as panelas luzidias em cima.
Eu guardo lembranças do meu pequeno vilarejo, da simplicidade da gente que se cumprimentava e se abraçava com satisfação. Hoje na cidade grande eu vivo de lembranças, eu vejo o asfalto, a gente passando e não se notando, não sinto cheiro de café coado ou de quitanda assando. Mas se volto também para o meu vilarejo eu não encontro os costumes daquela época. Bons tempos que eu gostaria que voltasse.