AS FORÇAS EM TORNO DE NÓS
Paulo Cezar S. Ventura (rolimaeditora@gmail.com)
Academia Nova-Limense de Letras
Em todas as histórias contadas ao longo dos tempos ressalta-se um tema em comum: a luta do bem contra o mal. Levamos isso tão a sério que acreditamos que esse seja o motivo principal pelo qual vivemos e nos encontramos nesse planeta chamado Terra. Acreditamos que cada um de nós tem um papel nesta luta eterna e que precisamos cumprir com galhardia esta missão.
Nos dias atuais colocamos nosso pensamento em torno de uma luta que parece nos unir no mundo todo (o que não é verdade): nosso inimigo comum, um vírus, nos coloca quase todos do outro lado. O mundo contra o “corona vírus”. Nesses momentos é que precisamos de fazer algumas reflexões sobre atitudes e ações, nossos projetos de vida, nossas relações interpessoais, etc.
Eu volto à questão da luta do bem contra o mal que iniciei acima para expressar um pensamento que me veio à mente. O verdadeiro poder não está no bem ou no mal, nem na luta entre eles. Por uma razão simples: quem é o bem e quem é o mal. Quem se autodefine assim? Ou algumas pessoas tem esse poder de definir “esse é o bem, aquele é o mal”? Quantas vezes pensamos estar fazendo nosso melhor e, no entanto, fazemos mal a outros? Podemos estar certo de uma coisa: nossas melhores ações sempre fazem mal a alguém, e nossos piores pecados e pesadelos nem sempre nos conduzem ao mal. Não sejamos tão maniqueístas. O bem e o mal convivem no mesmo espaço, muitas vezes na mesma pessoa.
Como dito no parágrafo anterior, o verdadeiro poder está no entorno, na natureza, não nas pessoas de bem ou de mal. E tanto as pessoas “de bem” quanto as “de mal” tentam controlar esse poder e tirar proveito dele. A concepção vigente, mais aceita, é que quem controlar esse poder, essa força, vencerá o duelo. Mas ninguém tem o controle. O controle, de fato, está na compreensão desse poder, dessa força, não na sua manipulação. E precisamos dessa força, hoje, para nossa sobrevivência. Se a força está no entorno de nós, como utilizá-la? Hoje o universo parece nos pedir paciência. É a palavra de ordem do mundo. Paciência. Para ficar quieto em casa; para não adoecer; para respeitar o espaço do outro. Não podemos invadir o espaço do outro sob o risco de levar, ou pegar, o vírus e nos colocar, ou colocar alguém, em risco de vida. O respeito ao espaço do outro é uma forma de aprender a usar essa força que está em nosso entorno.
O vírus que nos prende em casa, não é a personificação do mal. É apenas um agente dessas forças, um teste em nossa capacidade de ser paciente e ter respeito ao outro, ao espaço do outro. O abraço, tão importante em nossa vida, até mesmo para a manutenção de nossa saúde mental, se torna simbólico. Precisamos abraçar o outro, e sentir seu abraço, sem tocá-lo. Até passar a crise.