A COROA E NÓS
Paulo Cezar S. Ventura (rolimaeditora@gmail.com)
Academia Nova-Limense de Letras
Bom dia mundo, bom dia universo. A Terra está doente e correndo o risco de perder milhares, quiçá milhões, de seus habitantes humanos. Há um grande problema no ar. Uma coroa. Não é nenhuma coroa real, nenhum rei tirano é louco o bastante para matar tantos súditos, muito embora muitos loucos líderes tenham vivido, alguns ainda existem pelo mundo afora.
Esta é uma mínima coroa, que faz um estrago enorme. Adoece as pessoas e as sufoca, impedindo-as de respirar. E as sufoca de um jeito que não sei se é cruel, do ponto de vista físico. Alguns sobreviventes afogados (revividos) em rios e mares afirmam que sentem uma calma antes da morte, ou quase morte no caso deles. Mas é cruel assim mesmo, porque provavelmente vem a dor antes. E é cruel para os amigos que ficam. E essa coroa prefere os mais velhos, principalmente aqueles que apresentam alguma doença e não têm resistência suficiente para combater a coroa.
Trata-se de algo tão pequenino, tão invisível, o que torna esse inimigo ainda mais perigoso. Um vírus. Isso mesmo: um vírus. De alguns micros ou nano metros de tamanho. E o pestinha merece nosso respeito. Como algo tão pequeno provoca tanto mal, repentinamente, em tanta gente pelo mundo afora?
Pelo menos a peste é democrática. Ataca ricos e pobres, feios e bonitos, brancos pardos amarelos e pretos. Temos que lhe tirar o chapéu e colocar em nós uma máscara protetora e manter nossa higiene em dia. Em dia, não. Em minutos.
O que essa coroa quer de nós? Lembrar-nos de que somos todos os iguais no mundo, na raça humana? Tantos já nos disseram isso pelos séculos passados, mas sempre nos esquecemos. A sede de poder dos homens fala mais forte. Diminuir a população do mundo, já que somos mais de sete bilhões de humanos no planeta? Quer nos avisar que devemos finalmente aprender a nos cuidarmos uns dos outros? Ou nos castigar por tanto desrespeito à natureza?
Lembremos que ela, a coroa, surge de uma mutação de vírus em animais. Em morcegos, segundo nos disseram os chineses. Será que haverá uma corrida para matança de morcegos? Como houve com macacos por os culparem pela transmissão da febre amarela? Pena, se houver. Espero que não. Afinal, ele não nos incomoda. Já convivi com morcegos no telhado de minha casa certa vez. Fazem barulho mas não perturba mais que isso. E já acordei com morcego em minha cama. E eles são também responsáveis pela polinização na natureza, e pelo surgimento de novas árvores. Eles levam frutas e suas sementes de um lugar a outro. Sem os morcegos alguma coisa na cadeia de relacionamentos na natureza se perderá e o prejuízo poderá ser maior. Outros milhares de mortes poderão acontecer sem eles.
De todo modo, só nos resta ficar em casa e esperar o ciclo ativo dessa coroa passar para podermos voltar às ruas. Quando isso acontecer, se vivo eu estiver (estou no time dos mais queridos e visados por essa coroa, os idosos), quero abraçar todo mundo. Como eu sinto falta do abraço dos amigos.
Então, bom dia mundo. E deixem os cientistas e profissionais de saúde trabalharem. Toda nossa força a eles!