CORONADA - II
Era pouco mais de uma tarde. O sol rachava o asfalto. Um cigarra concertava no capim alto. No mais, silêncio e abafamento. Ninguém na rua. A moto surgiu depois da curva. O rapaz olhou a viatura, ameaçou parar mas considerou a distância e decidiu seguir. Veio, devagar.
O policial sacou a arma mas não apontou. Indicou com a mão para ele parar. Um lenço cobria o nariz, parecia um gângster.
O rapaz parou, desceu da moto e, com as mãos na nuca, foi para a calçada. Depois de revistado, pediram-lhe os documentos. Ele sacou a carteira, ciente de que agora sim tinha perdido a magrela. Licenciamento atrasado.
Neste momento espirrou. O cidadão da lei imediatamente recuou a mão, deixando cair a carteira.
- Você tá resfriado, cara?
- Acho que sim, senhor!
- E por que não avisou a gente? Vai, vai... pega seus documentos! Puxa o carro! Se afasta! Vai logo!
O rapaz abaixou-se, pegou a carteira no chão e subiu na moto. Deu no pedal até ela pegar, depois de duas tossidas secas.