O Amor é cego

O amor é cego

Eu digitava cegamente minhas lições em meu notebook

Cegamente pois sou cego de nascença.

Enquanto eu digitava, meu peito começava a apertar.

O gosto amargo e confuso travava bem no meio de minha garganta.

Meus ouvidos não ouviam mais meus pensamentos. Meus ouvidos prestavam atenção na barulheira dos carros passando pela estrada da rua saint-denis.

Prossegui digitando minhas lições. Tentando me concentrar em minha mente, somente.

Um barulho de pássaro batendo em minha janela, fez acelerar meus batimentos cardiacos. Malditos pombos. Mesmo não os vendo, os acho repugnantes.

Prestes a concluir minha lição, o telefone toca com um estridente "TRIIIIIIIMMM TRIIIIIIMMMMMMMMMM". E lá se vai minha criatividade para o brejo, como dizem. Ao ouvir primeiramente um "Salut" do outro lado, eu apenas sorrir.

Era meu amor do outro lado da linha. Quando iria perguntar como estávas, ela me imterrompendo disse-me para apenas escutá-la.

Ela dizia sobre nosso amor. Que o início parecia como a primavera, lindo e cheio de flores. Que logo foi para o verão. Quente e intenso. Passando pelo outono ele foi caindo na rotina de nosso cotidiano parisiense. Mas que infelizmente chegara o inverno. A neve congelante havia adormecido nosso amor.

Eu queria estar "pesadelando" naquele angustiante momento.

Desliguei o telefone sem antes ouvir o término de sua confição assassina.

Assassina de meu coração, de meu sentimento... do meu amor.

Sem perceber, voltei ao passado numa forma surreal. Me recordava de todos os momentos, TODOS. As falas, os movimentos, as expressões. Parecia uma cena de um filme de cinema editado em minha mente.

Me recordei da vez que a levei ao teatro, ao cinema. Quando apresentei a minha família, meus amigos. Meu bairro, minha faculdade. O bar que eu frequentava. O banco que me sentava em frente ao rio senna. Da nossa música. Da primeira vez que fizemos amor. Dos gritos, choros e risos que compartilhamos. Das promessas que pareciam infinitas e inquebrantáveis.

Era um filme em minha mente, um misto de realidade e surrealidade constante.

Quando o filme em minha mente editava a legenda FIN, só veio uma frase frêmita em meu pensamento "Pardon mon amour"

E o telefone tocara novamente. Seu barulho estridente soa como música em meus ouvidos naquele momento. Era meu amour. Ela perguntou se a ligação havia caído. E dizia que estava interpretando fracassadamente seu texto teste, para uma cena banal qualquer de um filme. Ela disse que não queria soar tão melodramatica. Eu respondia a ela com meu silêncio. Quando ela pois a se calar e perguntar-me se eu estava a ouvindo, eu apenas lhe respondi "non ! je suis te vends"

Débora dos Anjos
Enviado por Débora dos Anjos em 23/03/2020
Código do texto: T6895325
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