O Sossego das ruas
Num primeiro momento, não dei bola e segui trabalhando normalmente. Só me dei conta que estava fazendo a coisa errada quando, depois de uns comentários que eu fiz, as pessoas começaram a se afastar de mim, não queriam mais contato, ficavam cismadas, ao longe.
Pensei, tem alguma coisa a mais que eu não estou entendendo.
Demorei um pouco, é verdade, mas era tão óbvio que eu, na minha ingenuidade, não prestei atenção.
De repente fui obrigado a ficar em casa, confinado, em quarentena.
Você sabe o que é ficar em casa o dia todo, olhando para a mesma mesa, as mesmas cadeiras, o mesmo fogão, as mesmas portas, o mesmo quintal, lendo os mesmos livros, ouvindo os mesmos latidos de cachorros?
Não sabe, mas não sabe mesmo. Isso eu posso afirmar com certeza, a partir da experiência da quarentena.
Cheguei a contar quantas vezes os cachorros latem por hora. Um ganido que ao longo do dia vai deixando você louco e chega aquele momento que você quer esganar seu bicho favorito, mas irritante. Nunca imaginei que seria tão irritante ouvir latidos sem fim. Latem 35 vezes por hora, então conte quantas vezes ele late por dia e pense na minha situação.
Ao fim do dia, você se sente maluco.
Nesse caso a quarentena não ajudou muito.
Mas a finalidade de ficar em casa foi outra.
Está existindo uma gripe muito forte que a chamam de Coronavírus e surgiu numa experiência mal feita em um dos laboratórios de Wuhan, na China, no final de 2019 e infectou muita gente por lá se espalhando mundo afora.
Chegou no Brasil e a única forma de conter o avanço do vírus é o isolamento social. Quem diria, logo nós, tão afetivos que gostamos de tocar uns aos outros, beijar, abraçar, deitar e estar juntos.
Não pode mais, pelo menos por enquanto.
Os americanos chamam isso de social distancing e é a mesma coisa, o isolamento social. Dessa forma, as pessoas que tiveram contato com pessoas infectadas não transmitem o vírus para pessoas não infectadas.
O vírus não propaga.
Sabe o dia em que o mundo parou? Pois é! Estamos assim, nossas ruas estão caladas, as cidades frias e sem gente circulando pelas calçadas como malucas em busca de algo para comprar, para comer.
Parou tudo ou quase tudo.
Mas eu pergunto, no meio do meio silêncio, quem vai pagar o custo dessa parada brusca.
O preço da quarentena vai dar um barulho infernal.
Vou continuar contando essa história que não vai acabar bem.