QUARESMANDO...
Prof. Antônio de Oliveira
Tudo é número. Os números são o fundamento real de tudo. Para o grego Pitágoras, séc. VIa.C., os corpos seriam formados por números, pares e ímpares. Estes, os ímpares, não divisíveis por dois, são considerados finitos; aqueles, os pares, sempre divisíveis, são, de certa maneira, infinitos. Cada algarismo do sistema decimal traria consigo um simbolismo, por exemplo, quatro, como quatro pontos cardeais, norte, sul, leste e oeste.
Números cabalísticos, por sua vez, dentro do estudo da numerologia, são aqueles vinculados à cabala, que significa ‘tradição’, e aos arcanos maiores do tarô e a gênios ou anjos. Textos da Bíblia, principalmente no seu original em hebraico, podem ser considerados de valor simbólico, como o número sete. A palavra quaresma vem do latim, subtendendo-se a palavra dia: quadragésimo dia antes da Páscoa.
E o que dizer do número 40? O Antigo e o Novo Testamento contêm várias passagens em que aparece esse número, consoante cultura, estilo e contexto de época da comunidade judaica e, posteriormente, da comunidade judaico-cristã: 40 dias de dilúvio; 40 anos de peregrinação dos judeus pelo deserto; 40 dias de Moisés no Monte Sinai e, de Elias, no monte Horeb; 40 anos dos reinados de Saul, Davi e Salomão, os três primeiros reis de Israel; 40 dias de Jesus no deserto; 40 dias de Jesus, ressuscitado, aparecendo aos discípulos.
O que pode haver de comum entre esses exemplos do emprego do número 40? Segundo Carl Jung, sincronicidade importa numa relação de significado. Não de relação causal. Essas passagens bíblicas têm final feliz. No fim do dilúvio uma pomba retorna à arca trazendo, no bico, um ramo de oliveira. Moisés carrega as tábuas dos dez mandamentos depois do encontro com Deus. Jesus ressuscitado ceia com os pescadores na praia e conversa com os discípulos de Emaús. Depois da tempestade vem a bonança, a doce figura do coelhinho saindo da toca, o pintinho saindo do ovo, o círio aceso. Toda a alegria da Páscoa.