Silêncio
Eu continuo me arrumando, maquiando, vestindo roupa como se fosse sair de casa. Ontem Laura me perguntou se eu ia trabalhar. Respondi que não. Então ela disse: - Uai, está com roupa de trabalho. Então eu respondi: - Arrumei pra vocês.
Mas são tantas novidades nesses tempos que a gente ainda não conseguiu digerir... Uma coisa que tem me chamado atenção é o silêncio. Só ouço os passarinhos. Seu canto foi amplificado pelo silêncio da rua, sem o ruído dos motores de carro e motocicletas. Sem o rumor de gente pela calçada. Ouço também os cachorros. Eles nada sabem que o mundo parou. Há um silêncio reverente. Nunca antes na vida tinha vivido um domingo assim... Não nos reunimos na casa dos meus pais. Cada família ficou na sua própria casa. Não há barulho das crianças, a gargalhada de um, as brigas deles. Até as pequenas brigas fazem falta... Tudo isso foi envolvido pelo silêncio. É como se esse COVID-19 tenha o poder de dizer ao mundo: PSIU! CALE A BOCA! E o mundo obedecesse. Porque estamos assustados com esse poder que ele tem de nos parar, de nos mandar pra casa e de nos mandar calar.
Sabe? Alguma lição teremos de ter nesses próximos dias ou meses... Talvez o mundo não seja o mesmo nunca mais. Acho incrível que o mundo tenha tido tantas mudanças nos últimos 40 anos, tenha evoluído tão depressa e tão drasticamente, pra ser parado agora, dessa forma tão brutal! Será que se continuasse naquele ritmo da semana passada, colapsaria? Nosso mundo, definitivamente, nunca mais será o mesmo! Nós, nunca mais seremos o que fomos até hoje. Sinceramente, não sei se isso é bom ou se é ruim. O que sei é que viveremos, doravante, num mundo novo.