Asaph

Asaph

Havia lá fora um grande perigo e eu estava sitiado em minha casa a respeitar a quarentena. Necessitava ter todos cuidados por pertencer a um grupo de risco, mas não posso deixar de narrar a inocência:

Precisava exercitar meus pulmões e no espaço corredor do quintal eu caminhava vinte metros e retornava no pique tantas vezes até ser interrompido pelo velotrol estrondoso daquela pequena criatura a vir disparado na contramão em minha direção a me fazer desviar sobre sua cabeça. O moleque serelepe, que recentemente

acabara de completar quatro anos, ao avistar minha atividade disparou seu desejo:

- Vô Pico, deixa eu brincar contigo também.

Não pude resistir àquele pequeno e destemido ser e o convidei a disputar uma corrida.

Na linha de partida eu contava até três e ao partir o via a dois metros de distância se antecipando a largada e em forma de zigzag impedindo a minha ultrapassagem a chegar

inúmeras vezes no portão de ipê que recebia a pancada de campeão.

Seus gritos chamaram a atenção de Alice que ao se aproximar, ouvia:

Ganhei de novo!

Tive então a ideia de quebrar aquela hegemonia e impus uma arbitragem. Alice daria a partida para impedir que o espertinho não queimasse, mas mesmo assim o que se via era os pulos de alegria do pirralho.

Cansado, sugeri a última corrida e antes do tiro inicial, apontei para o céu e falei:

Olha lá um navio!

O pequeno piloto perdeu os seus preciosos segundos para procurá-lo o que o deixou para trás a fazer com que eu vencesse pela primeira vez.

A derrota não foi bem recebida e ouvimos um barulhento desmonte do triciclo e tentamos explicá-lo sobre a importância de saber peder e vimos Asaph erguendo as duas rodas a segurar pelo eixo e a simular um haltere a dizer:

Vovô Pico, quero ser forte igual a você.

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 21/03/2020
Reeditado em 22/03/2020
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