NEM CÂNCER, NEM CORONAVÍRUS CONSEGUIRAM POR ORA ("Deus é um desespero que começa onde todos os outros acabam." — Emil Cioran)
Estou com uma cicatriz vertical na barriga, de uma facada, solidário ao presidente Bolsonaro, em contextos diferentes, ainda que feita por um profissional, foi por onde agrediu o meu câncer do intestino, mas queria ter a certeza que não foram vocês a motivação para a inflamação ser tão agressiva. Por tanto tempo, estava eu descuidado, não vi, só despertei agora, prejudicado pela anemia. Sim, uma anemia severa alertou-me para procurar um médico. Havia sangue nas fezes, e a biópsia constatou "Adenocarcinoma" na vertical do intestino grosso direito. Era o início de uma situação conscientemente desesperadora. Ah, mas, é um tipo comum, tem tratamento! E no que consta o tratamento? Uma cirurgia (colectomia) e aplicação de quimioterapia. No meu caso, foi prescrição médica um protocolo de doze sessões, incluindo o uso do infusor por quarenta e oito horas, completando o ritual terapêutico. Mesmo sendo uma bombinha diferente a cada sessão, eu me apaixonei por elas.
Minhas relações sociais foram desestruturadas, afastei-me do trabalho — ofício de professor por concurso estadual. Os conhecidos e colegas de trabalho começaram a se movimentar, uns poucos consternados por dividir a dor, outros tantos aliviados, pois o crítico do sistema educacional estava preste a não lhes dizer mais nada.
Os desconfortos trazidos pelos efeitos colaterais do tratamento impossibilitavam-me de pensar com clareza, mas não parei de ler e escrever, usava a internet para pesquisar o que atenuava esses inconvenientes. Para desintoxicar o fígado e abrir o apetite tomava "Silimalon", era bom tomar o remédio e comer novamente com avidez. Usei chá de canela para eliminar as náuseas, açafrão para tirar as dores das articulações e cansaço das pernas. Para a sensação de boca queimada, mucosa dormente e desvio de paladar, descobri um suplemento que melhorava bastante: "glutamina". Para diminuir a queda do cabelo ensinaram-me alimentos ricos em zinco e cobre, então continuei comendo muita carne vermelha e branca, porém somente cozidas. Evitava o contato com o quente e o gelado, pois me tornavam elétrico com sensação de choque térmico. Devia tomar bastante água, contudo não tinha vontade, resolvi minha hidrofobia com suco de cebola. Assim passei a usar água com prazer por dentro e por fora.
Minha alegria era ouvir das pessoas dizerem que eu nem parecia estar doente. Meu estado aparente levava eles a duvidarem, às vezes, eu lhes mostrava a cicatriz da barriga e o cateter implantado no ombro direito no esforço para dizer que isso não era em vão. Uma nutricionista do "Cebrom" receitou-me um suplemento da Nestlê (Impact) , então ganhei uns quilinhos a mais, com isso ganhei a aparência de bem estar e uma boa performance. Com dois meses de Noripurum Fólico, a anemia desapareceu por completo. As plaquetas estavam ainda baixas comprometendo minha imunidade, isso também, eu resolvia com o uso de mel, geleia real e pólen. Todavia nem gripei. E todo tempo, no grupo de risco por ser idoso e sofrendo os efeitos da quimioterapia, foi comprovado, através de uma tomografia computadorizada, que meus pulmões estavam seriamente comprometidos, contudo SEM outros sintomas de COVID-19. Acho que o corticoide, para combater as alergias às substâncias da quimioterapia, resolveu.
Dia trinta de março, seis meses depois, foi minha última aplicação da quimioterapia, agora começa minha repetição de exames para comprovar minha cura. Voltam meus fantasmas e psicologicamente estou despreparado para enfrentá-los novamente. Medo, insegurança e desconfiança. Quero a cura confirmada, por isso vou realizar todos os exames pedidos pelos médicos. Que a doença saia de mim, e eu dela. E valeu pela experiência. "Pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio." (2 Timóteo 1:7) .