CARNAVAL - PARTE IV

1 - Em *crônica de 1901, na "Gazeta de Notícias", o poeta OLAVO BILAC, aquele da porta da Confeitaria Colombo olhando as portadoras de saias, dizia que carnavalesco é "quem nasceu para o carnaval"... e falava do delírio de todas as classes e afirmava a supremacia da festa momesca na Capital Federal.

2 - Ao finalzinho do século XIX, a 'dita' Terça-Feira Gorda (feriado na maioria dos países ocidentais), o carioca se acotovelava (sentido de multidão, todo mundo encostadinho) nas ruas do Centro do Rio para assistir ao desfile das Grandes Sociedades, início na (estreitíssima!) rua do Ouvidor, o fascínio nos chamados "Carros de Ideias", com gigantescas alegorias materializando as politicagens dos assuntos públicos, e cartazes para leitura rápida. Desfile de projetos a seguir, políticas a evitar, ideais a defender - República, Liberdade e Democracia (que sempre tiveram um lugar no carnaval brasileiro)... ----- Depois, a partir de 1950, o protagonista era o gaúcho das charutadas, delírio da multidão - ele talvez jamais acordasse de mau humor porque ria de si próprio, idolatrado /comum, em muitas residências, um altarzinho com os santos católicos de devoção + estatueta de "Gegê", sentado, com a faixa presidencial verde-amarela, em tecido de fita - ah, bons tempos da adoração pelo menos ingênua (enganada é "outra" coisa) e da crítica livre ao Catete... ----- Voltando. Em 1881, obra da agremiação "Tenentes do Diabo", a figura de Pedro II coberta com mancha negra, espalhada como sangue: "Essa mancha há de ter seu curativo / quando teu mundo for livre / sem conter um só cativo". Em 1886, o "Club dos Democráticos" (demônio é "outra" coisa, mito hipnotizador) criou a "Alegoria à Liberdade", com o barrete frígio /invenção para o rei Midas, grego, esconder as orelhas grandes, castigo imposto por Apolo......... - ah, pesquise caro leitor/ e o estandarte revolucionário. Os "Fenianos" caprichavam em representar a República, sinônimo de Democracia - quem não fugira dos livros, estudava as metáforas materializadas, entendia tudo com facilidade. A polícia podia tentar impedir o cortejo, governo se enfurecer, mas era uma forma de fazer o povo pensar independente, sem forma de 'manada' igualitadora. ----- Adaptação (ampliada) de artigo de HELOÍSA MURGEL STARLING, historiadora.

3 - A tradição dos bonecos gigantes de Olinda, Pernambuco, vem de 1932, criação do "Homem da Meia Noite", dos artistas plásticos ANACLETO e BERNARDINO DA SILVA. Nos anos 50, no Engenho de Dentro, subúrbio carioca, bonecos gigantes também desfilavam pelo carnaval, os míticos Bonecos do Germano, que um morador do bairro (rua Dois de Fevereiro) que os confeccionava. Em 2020, o bloco Loucura Suburbana e o SESC local preparando exposição em homenagem, amostra até 2 de maio, bonecos recriados pelos artistas plásticos CELIO MATOS (também morador) e OTÁVIO AVANCINI. ----- Germano era um bicheiro da região, que tinha uma escola de 'bonequeria', para os blocos de carnaval.

----------------------------------

NOTAS DO AUTOR:

*Reunião de crônicas em "Insolências, crônicas de Olavo Bilac", 1996, livro de ANTONIO DIMAS.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 21/03/2020
Código do texto: T6893042
Classificação de conteúdo: seguro