Lindomar, a pandemia e as fofoletes de Higienópolis
Manhã nublada em São Paulo. Foram-se as águas de março, aproxima-se o outono. Lindomar, 43 anos perambula pela região central. Para viver, vende sua arte, feita com latinhas de refrigerante. “Tem dias que consigo uns trocados. Às vezes consigo almoçar. A última vez, foi há três dias”.
Em uma de suas paradas, lhe chama atenção um grupo de mulheres bem vestidas, todas usando máscara, com uma banca montada na praça. São as fofoletes de Higienópolis, nome pelo qual o grupo é conhecido. Uma delas brada ao megafone: “Venham todos, orientem-se sobre o coronavírus. Retire aqui seu álcool em gel”.
Intrigado, Lindomar se aproxima. Rita, a moça do megafone, espantada, escala-o com o olhar de baixo a cima, dando dois passos para trás.
- Bom dia, moça! Eu... – Lindomar é interrompido pela ativista.
- Não moço. Não estamos aqui para comprar nada! Onde você pega essas latas? Por acaso estão higienizadas? – Indaga Rita.
Assustado, Lindomar pergunta:
- Esse tal corona é de beber ou comer?
Marta se levanta e vai de encontro à Rita, e perplexa, cochicha:
- Impressionante! Com todo acesso a informação que temos hoje, vai me dizer que ele não sabe?!
- Calma, Marta! Não se aproxime demais, ele está sem máscara. – Previne Rita.
Jandira, dona de um supermercado nas proximidades, exclama:
- Ele vive de porre deitado na praça! Na certa quer dinheiro pra beber!
Rita se apressa em pegar um frasco de álcool em gel, estica o braço na direção de Lindomar e diz:
- Toma moço. Pode levar! Faça bom proveito!
Lindomar, sem entender nada, pega o frasco e passando a mão na cabeça se afasta.
Por vezes, a informação não atinge a totalidade das pessoas. Caridade sem solidariedade, não passa de autopromoção.