MEU PRIMEIRO CHEFE: FELICIANO PENNA CHAVES
MEU PRIMEIRO CHEFE: FELICIANO PENNA CHAVES
Janeiro de 1973. Recém-formado engenheiro civil, fiz questão de voltar para Santos. Convidado pelo Eneo Palazzi, fui trabalhar em uma empreiteira nas obras de Expansão da então Companhia Siderúrgica Paulista, a COSIPA, em Cubatão. A Cavalcanti Junqueira S.A. era uma tradicional empresa carioca que participara da construção do Estádio do Maracanã e tocava várias obras da usina. O engenheiro que representava uma empresa contratada era o Engenheiro Residente, que possuía perante a Cosipa a responsabilidade por toda a atuação da empresa a qual representava. Na época não havia essas exigências de hoje do contratado passar por integração. O sujeito era admitido e começava a trabalhar após rápida apresentação ao pessoal com que iria se relacionar em suas atividades. O Encarregado Administrativo era o José Maria, nordestino, educadíssimo, com larga experiência em sua área. Prestes, gaúcho de Dom Pedrito que depois iria trabalhar na Cosipa, era o apontador e programador das horas extras. Seu Carlos, um ativo senhor de setenta e oito anos, era o chefe da oficina mecânica e sabia tudo do seu setor. Tinha o pessoal das obras. Zezinho e Nagir eram mestres de obra, Nenê o eletricista. Branco era encarregado de carpinteiro, Joãozinho cuidava de montar as armaduras de aço para concreto, um outro José, um mineiro, cuidava das bombas de esgotamento das escavações quando chovia, Joel encarregado de soldadores, tinha um encarregado de transportes, e muito e muitos personagens que guardo com carinho. E o nome das obras então eram novidades para mim: Tiras a Quente, Tesouras a Frio, Trem Fantasma, Alto Forno, Escarfagem, Chapas Grossas, etc. Quem trabalhou em siderúrgicas sabe bem o que significam esses nomes: são partes do processo de fabricação de aço, uma usina de aço é uma instalação complexa e cada setor é de grande importância para obtenção do produto final. Bom, após essa breve apresentação, Eneo me conduziu à sala do chefe da obra: o Engenheiro Residente. O canteiro de obra, comparado com as instalações atuais, era de uma pobreza extrema. Um barraco de madeirite pintado de azul, de um lado a parte administrativa, uma sala para engenheiros e a sala do chefe, o engenheiro residente. Entrei na sala e um camarada sentado ao fundo, piscando repetidamente, berrava ao telefone com um acentuado sotaque carioca:
- Luís Fernando, estou fazendo uma campanha aqui na Cavalcanti e sua participação é fundamental!
Após ouvir a resposta, continuou:
-Como participar? Libera minhas medições! Fazem três meses que vocês não me pagam!
Desligou o telefone. Olhou para o Eneo, que me apresentou.
- Paulo Miorim, seja bem-vindo! Pode pôr para trabalhar, Eneo.
Esse foi o primeiro contato que tive com um profissional de primeira linha, um engenheiro inteligente, experiente, excelente negociador, bravo, que sabia tudo da profissão, com umas passagens inesquecíveis que pude presenciar, de nome Feliciano Penna Chaves, o Peninha. Quase quarenta anos depois, em 2010, voltei a trabalhar com essa grande figura em sua empresa, a Civilport. A não ser pela idade, Peninha continuava o mesmo. Havia se dedicado a execução de obras portuárias e obtido sucesso com grandes contratos. Sempre se posicionando claramente, com grande habilidade nas negociações. Agradeço ter aprendido bastante com ele matérias de minha profissão que a escola não ensina. Salve, Peninha!