The Walking Dead no Centro do Rio

Caminhar pelas ruas no Centro do Rio de Janeiro virou cena de filme de horror. Pessoas em situação de rua, vítimas de uma sociedade injusta que os invisibilizam, caminham a ermo atrás daqueles restos de comida, cada vez mais escassos, deixados nas lixeiras dos poucos restaurantes que ainda funcionam.

Com poucas pessoas circulando pelas ruas, a oferta de esmola ficou reduzida e o perigo de um ‘ataque’ é enorme.

A pandemia está abrindo as cortinas e transformando os ratos da coxia em personagens principais, são fantasmas saindo dos porões para ocuparem o palco, corcundas abandonando o sino para abraçarem as ciganas.

Se a gripe é chinesa, se o vírus foi criado em laboratório para beneficiar a economia de um país em detrimento de outros, se é histeria ou calamidade, se o governador aposentou o discurso do tiro na cabecinha, se a panela é contra ou a favor...

Não faz a menor diferença para os moradores das ruas porque eles estavam, estão e continuarão nelas com ou sem Covid-19, vagando sem atendimento, alijados dos programas sociais e de controles de doenças, enfrentando as barreiras que o poder público constrói para que continuem à margem dos serviços públicos.

A pandemia da hora vai passar e as crianças retornarão às aulas, os carros voltarão a circular, as fronteiras serão reabertas, as férias estarão novamente nos calendários.

O que as autoridades estão pensando, se é que estão, em relação a situação de risco das pessoas que vivem nas ruas, os mortos que caminham?

Ricardo Mezavila

Ricardo Mezavila
Enviado por Ricardo Mezavila em 20/03/2020
Código do texto: T6892435
Classificação de conteúdo: seguro