Desacreditados

Certa vez ousei mencionar um fato recorrente em minhas incompletas relações amorosas: diminuir à mim mesma para não ferir o espaço de outrem. Espaço este que dolorosamente forçava-me à crer que tão distante era a minha sorte e ainda maior a possiblidade de "acertar o dedo". Que grande farsa o meu prazo de validade.

Há prováveis 30 dias tenho escrito incansáveis poemas para o mesmo ser humano. Materializei sua imagem diversas vezes, decorei algumas letras de música e colei fotos nossas com durex na prateleira dos perfumes(usei todos eles para te encontrar). Pensei em controlar o tempo e não avançar algumas etapas até me certificar de que era recíproca nossa sintonia. Faço menção ao questionamento reflexivo de Rute Albanita Librelon em seu encantador livro titulado em "A cor de dentro" :

Qual o tempo que o relógio permite a perfeição?

Não devemos nos reduzir ao outro para caber no seu amor. O amor vivo é aquele que transborda a partir de um componente inteiro, que é incapaz de reproduzir resíduos de si ou fragmentos.

Não podemos nos reduzir ao cronológico roteiro da vida e suas etapas falidas na concepção de amor verdadeiro entre duas pessoas.

Não quando se encontra alguém que fala do tempo com orgulho do que tem hoje.

Não quando se encontra alguém que te encoraja com as suas inseguranças.

Não quando se encontra alguém que vê a distância como combustível para encontros surpreendentemente desejados.

Por fim não podemos rejeitar os sinais que a sorte gradualmente nos presenteia. Seu amor pode estar chegando logo logo. Na palestra que você confirmou presença, no parque que você há anos não visita, na fila do sesc durante uma polêmica discussão, no reencontro entre amigos, ou na viajem para a Bahia que você sonha em realizar. Seu amor pode estar em qualquer lugar. Solte as mãos do medo e abrace a coragem, você vai precisar.

Fernanda Flora
Enviado por Fernanda Flora em 19/03/2020
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