O Coronavírus
Eu preciso escrever a respeito da angústia que sinto, partindo desse vírus ameaçador. Até agora fui capaz de escrever apenas uma Aldravia:
"vírus
põe
coroa
rei
do
isolamento"
Estava com as mãos na garganta, com os olhos cheios de medo, com mudas palavras. Hoje fez um dia de sol e, na estrada, eu até desconfiava dele. Sim, desconfiava do dia bonito e sem nuvens de chumbo. Foi aí que percebi como estava por dentro, em pensamentos "âncora" que fixam-nos num só lugar de dor. E a dor é cinza. E essa dor tem sua gênese no medo. Ora, meu Deus, se desde sempre nada, mas absolutamente nada é seguro. Que fantasia era essa que tínhamos alguma certeza nessa vida? Que afirmação tínhamos que voltaríamos pra casa depois do trabalho ou que acordaríamos no dia seguinte? Que ilusão de sermos super-homens e super-mulheres? Que confiança na máquina infalível que somos? Bem, digo todas essas coisas apenas para nos chamar à razão. Porém, esse dia bonito não foi em vão. Ele quer, sim, dizer-nos que o mundo e, nós nele, não iremos sucumbir a esse vírus metido à Rei. Precisamos reagir com coragem e elegância. Fiquemos de quarentena. Evitemos contato físico. Isolamento, sim, solidão, jamais. Vamos cantar, brincar com nossas crianças que devem estar muito assustadas com nosso comportamento infantil e desastrado. Desacelerar... Hoje fiz isso na estrada. Tirei o pé do acelerador e rodei sem pressa, sem correria. Foi possível sorver a paisagem, receber na face e nos cabelos o carinho do vento. Eu desejei que os minutos passassem lerdos, indolentes... queria que o tempo escorresse devagar. E dei-me conta que o mundo precisa desacelerar. Calma!... Sossegar o coração já é um recado pra esse bicho-papão.