SANTA BÁRBARA! SÃO JERÔNIMO!
Guardar as palmas bentas após a missa do Domingo de Ramos era um costume das famílias católicas no tempo de minha infância. Mamãe apanhava folhas de butieiros que tínhamos em casa, fazia pequenos feixes amarrados com uma folha dos mesmos que levávamos à missa e à procissão, onde eram benzidos pelo celebrante. Folhas de palmeiras e outras da mesma espécie são muito adequadas para guardar porque secam sem desintegrar-se.
Muitas casas tinham dessas folhas preservadas em algum lugar, em nossa cidade de Curitibanos, SC. Mamãe as colocava na parede, junto a um crucifixo. Na casa de vovó Mariquinha elas ficavam sobre uma mesinha, em frente à imagem de Nossa Senhora das Graças e um castiçal com vela que ela acendia toda vez que orava.
Fiquei surpresa ao ver dessas palmas no apartamento de minha sogra quando a conheci na cidade de São Paulo. Estavam em seu quarto, ao lado de uma capelinha com a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Não imaginava que o costume fosse tão amplo, acreditava que era algo que se preservava no interior.
Bem pequena descobri a finalidade daquelas folhas. Na casa de vovó, quando o tempo escurecia formando nuvens ameaçadoras de tempestade, ela retirava algumas palmas bentas daquele maço, acendia a vela e as queimava, orando com devoção. Ela não nos permitia usar facas ou tesouras e cobria os espelhos com um lençol. Dizia que atraiam raios.
Mamãe nos falava das enchentes de São Miguel que aconteciam no final de setembro, na primavera, pois São Miguel (Arcanjo) é festejado em 29 de setembro. Ela tinha muito medo de tempestades. Também queimava palmas e rezava em voz alta nessas ocasiões. Lembro de sua expressão assustada, fechando portas e janelas e invocando seus protetores:
"Santa Bárbara! São Jerônimo!"