ANDANDO POR AQUELAS BANDAS
Naquele horário, em dias normais, crianças corriam pela rua, feito loucas, perseguindo uma bola, ou umas às outras, em jogos de pega-pega e esconde-esconde. A agitação era garantida.
E nas calçadas velhas cadeiras acomodavam algumas pessoas, enquanto outras se arranjavam em um tamboretezinho ou num batente qualquer, para ouvir as costumeiras histórias dos mais vividos. Aquelas em que eles, os mais velhos, se deliciavam revivendo memórias, inclusive algumas que, às vezes, soavam dolorosas, pela emoção que demonstravam no discorrer do enredo.
[...]
De repente, andando por aquelas bandas onde me fiz gente, me percebi sentindo falta de mim, do que eu era tempos antes, bem pouco tempo. Saltando calçadas, absorta em meus pensamentos, a recordação das tardes de encontros era muito forte em mim. Tão forte que era possível rever rostos, ouvir o som das vozes, e, por incrível que pareça, até o cheiro do café servido naquelas rodas de conversa eu podia sentir.
Mas o que havia ali era vazio. As pessoas sumiram todas. Cada uma vivendo em seu mundo, protegidas em suas casas por grades, portões de alumínio, fachadas. Muros nos separando, física e emocionalmente, enquanto nos resguardávamos na ilusão de liberdade, em um insano vácuo de desilusões.
Esse inesperado vazio da rua me trouxe mais forte a solidão e me lembrou de que estou sozinha, não há ninguém, não há encontro. O que há é o meu próprio vazio, esse do qual sou refém, na incessante busca pela descoberta de mim mesma, do que é o ser, a essência, a minha razão de existir.