O INIMIGO INVISÍVEL

Um novo inimigo está chegando, pode já estar ali na esquina, pronto a dar-me um bote ao menor descuido meu. Meu ponto fraco é que não consigo vê-lo. Mas pelo menos sei que armas usar para precaver-me de seu ataque.

Se fosse um lobo, eu lhe daria umas pauladas. Se fosse um assaltante, eu o ganharia na conversa. Se fosse um fantasma desses que vejo por aí de madrugada, eu correria atrás dele como sempre faço. Mas não é nada disso.

Para o maior azar, tinha que ser um vírus. Não deve haver pior inimigo. Não pego gripe há mais de vinte anos, mas contra esse tal de corona não sei como anda o meu sistema imunológico. Mas, como disse, tenho as armas, que simplesmente são as informações que venho colhendo. Afinal, preciso conhecer bem esse meu inimigo.

Ontem lavei as mãos 113 vezes, mas perdi a conta de quantas vezes passei gel a cara. Se alguém me oferece a mão, respondo com um namastê. E nada de contatos com desconhecidos. Aglomerações, nem pensar, já basta o meu harém de 44 mulheres. Não almoço em restaurante, prefiro ir pescar debaixo da ponte e ali mesmo frito o peixe. Dentro de minha casa deixo o ar correr em todos os sentidos determinados pelos pontos cardeais, pois suponho que o safado não suporta correntes de ar.

E ainda ando imaginando outras formas de derrotá-lo. Não vou baixar a guarda. Inimigo é inimigo.

Egon Werner
Enviado por Egon Werner em 18/03/2020
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