O começo é mais confuso
Parede vazia e um pouco fria
Tudo bem, você não vai conseguir me inscrever, mas eu já vou ter nascido inscrito. Está cravado na alma, bem preso sem estar perto de nenhuma realidade. Realidade está que já morreu quando eu escolhi me distanciar de tudo o que já senti. Tenho que confessar muitas coisas e sei que não preciso me esforçar para desejar o que desejo. Estou chegando a um momento de sentimento estável, no fundo eu realmente espero que tudo o que ansiei se realize. Quero o bem, o melhor de todas as coisas e de todas as vontades. Não quero estar nu de frente ao espelho, pois acho que agora eu já consigo me por roupas. Não que eu não goste de ficar pelado, muito pelo contrário. Despido de roupas me sinto mais vestido. É como se estivesse na minha melhor versão. Cru e aberto à gratidão.
Mas me transformei em uma formiga e sair a andar no meu menor tamanho. Eu era gigante, mas agora só do tamanho de um grão. Como posso eu ter diminuído e desacelerado no tempo dessa forma? Ando pelo mesmo caminho sem reconhecer o destino. Agora me perco no tempo, não sei o valor do meu peso e se ousam a chegar perto de mim, não terei para onde fugir. Vou acabar sendo esmagado, pisado ou amassado por qualquer pé. Irei morrer como uma pequena formiga, sem total valor ou sem nenhum significado pela vida.
E se quando eu fechar os olhos, me pergunto, e parar de respirar, de qual outra maneira posso temer que novamente aberto meus olhos vão estar. E que vida eu poderia encontrar ou me encarnar? Que criatura irei me transformar. Como um peixe que desaprende a nadar ou como cavalo que não sabe mais um obstáculo saltar. Estarei me transformando e mesmo assim ainda estarei sem nenhum lugar. Perdido não serei achado, ao vento poderei ser levado e com alguma vida ainda estarei ligado. Vou entrar novamente no circulo, vou andar novamente a perigo e estarei preso continuamente ao meu destino.
Posso me desconectar e fingir que não sei mais nadar, mas ainda assim apático nadarei pelo mar. Tenho novamente que confessar? Estou preso ao que a vida tenta me pôr no lugar. Sou uma matéria voando pelo espaço, nada de muito profundo eu poderia entrar e ainda carrego o sentimento que some pelo ar. Pois comigo está o meu final e o meu começo, mas não possuo um meio. As coisas se derramam pelas bordas e semelhantemente ao que escova, continuo com o pé na cova. É difícil tentar explicar e sem palavras eu fico a vegetar.
É triste desejar a chuva e receber a quentura. Com o corpo em chamas eu não desejo que me joguem na cama. Que não me tirem a roupa e me coloquem longe da moita. Que não me beijem os lábios e ao mesmo tempo se afastem e me prenda em um aquário. Desejo o sentido, mas só recebo o irreal que nunca é o vivido. E ainda assim, preso me mantenho vivo. São tantos desejos que me sussurram ao ouvido. O gozo é sentido e ainda frio se mantém mais perto do declínio. E agora, estarei eu aflito?