Os espelhos
                      não mentem




     1. No dia seguinte ao meu aniversário, festejado no dia 5 de março de 2020, criei coragem, e me pus, demoradamente, diante do meu espelho. Verdade.
     2. Com surpresa, constatei que, levando-se em conta a idade do aniversariante, o estrago até que não fora dos maiores. Agradeci aos deuses, generosíssimos com este encanecido cronista. 
     3. Com este blábláblá inicial, quero dizer o seguinte: segundo o meu espelho, apesar dos anos por mim percorridos, ainda guardo, físicamente, um pouco dos tempos d'outrora. E os espelhos não mentem jamais. 
     4. Todos sabemos, que numa foto, há inúmeros recursos para pôr o fotografado mais magro ou mais gordo; mais novo ou mais velho; e até mais feio ou mais bonito. Diante de um espelho, não há como apagar nossa realidade.
     5. Muito bem. A cada ano, no dia 5 de março, amigos me parabenizam, dizendo: "Pôxa, cara, você não mudou nada. Você não diz a idade que tem; qual a receita? Dona Ivone deve estar lhe tratando muito bem".
     6. Acolho esses elogios, convicto de que os amigos, que assim me avaliam, são míopes; ou fazem gozação; ou simplesmente são uns mentirosos.
     Quando acontece desses elogios partirem das amigas, recebo-os, sempre achando que eles são demasiadamente magnânimos. A mulheres são de uma prodigalidade imensa. Quando gostam, então!
     7. Nessas horas, lembro-me da advertência do maravilhoso Pitigrilli (1893-1975).
     No seu livro "Não se come frango com as mãos", afirmou o festejado autor de "A loira dolicocéfala":
     - "Quando alguém lhe disser que você não apresenta a sua idade, fique certo de que essa pessoa mente. Você apresenta os anos que tem. No máximo pode não apresentar mais, porém não menos".
     8. Passado os festejos de mais um aniversário, e depois de ouvir tantos elogios, não raro, fico a me perguntar: será  que esse pessoal diz a verdade ou me incensam apenas para fazer o meu ocaso fácil de ser encarado?
     9. Se por isso, enganam-se todos. Não tenho a mínima dificuldade de absorver os anos "idos e vividos". Tenho, sim, nos meus momentos de solidão, saudades do passado... Inté para o ano...
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 16/03/2020
Reeditado em 16/10/2020
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