Faces da Vida

Velórios são sempre assim, sempre iguais, mas de alguma forma, parecem ser absolutamente originais para quem os sofre, porque o nascimento de uma criança ainda contagia se isto ocorre deste o inicio do homem, o lado ruim no velório de alguém que não é parente, é não conseguir igualar a dor de quem perdeu, fazer um esforço para ficar igualmente triste é inútil, mas necessário para respeitar o momento, não cuidar de si mesmo pode acabar em um sorriso fortuito...

Parece que a gente insiste que isto jamais vai nos acontecer, ou de alguma forma, é algo muito distante ou além, a morte talvez seja uma forma da vida arrastar-nos ao mundo real ou que alguma coisa resta para aprender neste mundo de gente viva.

O erro de cuidar de alguém que acabou de partir, a insensibilidade do sistema é continuo e incorrigível ! Quando se fecha a urna pela ultima vez, quando alguém responsável toma posse da tampa que estará em alguma parede encostada, ali próximo da urna, parece mesmo que é somente mais uma vez que aquele rosto será cerrado, como se fosse ver novamente quando se desejasse, o mistério e o peso da última vista não é respeitada, e a tampa da urna desce fechando e cerrando o morto pela ultima vez... ele nunca mais sera visto ! tantos "chaus" na vida, e agora uma despedida repentina e não planejada em detalhes ! simplesmente é fechado e levado a cova...

Outro golpe espera os parentes e íntimos, a cova já esta aberta totalmente e 2 ou mais coveiros esperam para "mais um enterro", mais um ??? e a partida de um ser querido que amou , tirou cpf e rg, casou teve problemas, chorou e riu é "mais um" ? isto é um golpe ! a cova já aberta e pronta, como uma fabrica que faz coisas em série ! porque eles não ensaiam que esta vez é original, embora não seja...

Não fingem que não sabe do enterro, e quando ficam sabendo os coveiros em tristeza conjunta partem de cabeça baixa a abrir a cova com pás... mas não, não é assim ! ela esta la pronta, aberta, como se o sistema já esperasse esta partida e não tivesse tanto valor este ser que se foi...

Gente é semente de terra mesmo, a partida é outra afronta ! após a urna ser baixada e ser lacrada com terra ou uma pesada lapide de cimento, todos deixam o local deixando ali aquela imensidão de sonhos, aquele universo de emoções que já foi um dia... tantas historia havia ali naquele que se foi, e tanta coisa aconteceria no futuro em seus planos e agendas mentais... tudo parado ali, e deixa ali aquele ser e vão embora, deixam ali embaixo do chão, porque ??? ora, quanto custa o estofamento de um carro, ou as penas de um colchão, quanto conforto aquele ser ja obteve na vida ! E porque permanece ali embaixo do chão como semente, como se não tivesse nenhuma importância, como se não fosse gente ! ora, é gente ! mesmo que gente morta...

Logo as pessoas deixam o local, e visão de costas é vista caminhando, ficando somente os coveiros sentados longe dali, ja terminado o serviço, que para eles foi mais um .... e logo o vento do dia ja embala as flores que ficaram ali encima daquele túmulo ! nem parece, mas ali embaixo tem gente ! embora gente morta...

Vida só tem no coração daqueles que foram embora, inútil de esperar um milagre, no absurdo que aquele corpo pudesse voltar a vida por um possível erro medico talvez ! mas não.. nada disto, o obvio se fez... acabou , e todo aquele universo-gente esta ali, embaixo da terra, reduzido..as mesmas pedras do lado que também nãos e movem nem sonham.

Isto choca sim ! porque tantos gastos com conforto, se no fim seremos reduzidos a um cubículo sem conforto, e esquecidos num canto de um cemitério ! não basta o romantismo de vivermos na mente e no coração das pessoas, estamos ali reduzidos a mais uma semente de cemitério, ali, embaixo da terra, e em algumas horas ninguém mais estará perto, acabou...

Dorival Afonso Cardozo
Enviado por Dorival Afonso Cardozo em 16/03/2020
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