Eleições de 2018

Sonhava que quando o Haddad vencesse a eleição contra Bolsonaro, o mau, o inculto, o energúmeno, toda a gente do bem, canhotos de sangue vermelho-pérsia, iria marchar pela avenida Paulista dançando ao som de Shiny Happy People, comemorando a vitória do amor e da pluralidade de opiniões sobre o ódio e o aplauso obrigatório do discurso nazifascista. Em meu sonho socialista, semelhante ao Atos dos Apóstolos, faríamos aqueles “passinhos” felizes, que Michael Stipe e Kate Pierson fazem no videoclipe, uma leda coreografia com um povo livre, dançando. Outros irmãos prefeririam dançar o Hully Gully, juntos, maconheiros, veganos, veados, lésbicas e toda a variação sexual que existe.

Não sei dizer precisamente o porquê de ter votado no Pete, mas, estou tentando descobrir escrevendo sobre um sonho, e algumas coisas vão ficando cada vez mais claras para mim. A galera da “esquerda” é mais educada, tolerante, cortês, por isso transamos com mais frequência em cotejo aos gados bolsonarianos, justamente porque somos mais sensíveis ao próximo. Nos agrada a doçura no falar, temos a candura no olhar de quem promove a paz. A gente vai ler jornal na biblioteca (que eles querem queimar para aquecer seus corações gélidos), folheamos e cheiramos as páginas de velhos livros depois dançamos o forró pesado, bebemos cervejas, quem estiver a fim de fumar “um”, tudo bem, temos sempre à mão uma seda e isqueiro e admiramos a “névoa branca que sai de trás do bambuzal”; quando a gente junta uma grana vai ouvir Henry Salvador em Paris, tira self de iphone com um elegante cachecol em volta do pescoço. A gentileza é nossa companheira de sempre e usamos eufemismos para com os pobres, por exemplo, dizemos que estes exalam um cheiro “acre” ao invés da expressão grosseira de direita “cheiram como cães de rua”.

Homem de preto
Enviado por Homem de preto em 14/03/2020
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